de entre elas tomar pela mão o ousado cavaleiro que se arrojou ao lago fervente, e levá-lo, sem dizer palavra, para dentro do rico alcáçar ou castelo, e despi-lo, e banhá-lo de lépidas águas, e depois ungi-lo com as mais preciosas essências, e vestir-lhe uma camisa de finíssimo cendal, toda rescendente e perfumada, e virem outras donzelas e deitarem-lhe um manto aos ombros, manto que, pelo menos, costuma valer uma cidade? E quando em seguida nos contam que, depois disto, o levam para outra sala, onde acha as mesas postas com tanto gosto, que ele fica suspenso e admirado? e deitarem-lhe às mãos água destilada de âmbar e de fragrantes flores? e fazerem-no sentar numa cadeira de marfim? e todas as donzelas a servirem-no, guardando maravilhoso silêncio? e trazerem-lhe tanta variedade de manjares, tão saborosamente guisados, que não sabe o apetite qual há-de escolher? e ouvir a música que soa enquanto ele come, sem imaginar donde vem a voz e o mavioso acompanhamento? e depois de acabada a comida e levantada a mesa, ficar o cavaleiro recostado na cadeira e talvez espalitando os dentes, como é costume, e entrar a desoras pela porta da sala outra donzela muito mais formosa do que nenhuma das primeiras, e sentar-se ao lado do cavaleiro, e começar a dar-lhe conta que castelo é aquele, e de como ela se acha ali encantada, com outras coisas que o suspendem e enchem de admiração os que lêem a sua história?
Não quero alargar-me mais nisto, pois daqui se pode coligir que qualquer parte que se leia de qualquer história de cavaleiro andante há-de causar gosto e maravilha a quem a ler; creia-me Vossa Mercê, e, como já lhe disse, leia estes livros, e verá como lhe desterram a melancolia e lhe melhoram a condição, se acaso a tiver má. Eu