O meu amor se abalança a esperar, sem ter podido nem minguar por enjeitado, nem crescer por escolhido.
Se amores têm cortesia, da que tu mostras colijo que o fim das minhas esp’ranças há-de ser qual imagino.
E se o bem servir consegue tornar um peito benigno, já tenho em que funde a crença de obter os bens a que aspiro; porque, se nisso reparas, às vezes me terás visto vestido à segunda-feira com as galas do domingo.
As louçainhas e amores seguem o mesmo caminho; e eu sempre quis aos teus olhos apresentar-me polido.
Por teu respeito não bailo; as músicas não te cito, que a desoras, e acordando os galos, terás ouvido.
Não te encareço os louvores com que os teus dotes sublimo, que, se bem que verdadeiros, me fazem de outras malquisto.
Teresa do Barrocal já, louvando-te eu, me há dito:
— Há quem pense adorar anjos, estando a adorar bugiosa; milagres dos arrebiques mais dos cabelos postiços, hipócritas formosuras, que enganam até Cupido.
Desmenti-a; ela enfadou-se; pôs-se por ela seu primo; desafiou-me, e bem sabes qual saiu do desafio.
Nem por demais te cortejo, nem para mal te cobiço: a melhor fim se endereçam minhas atenções contigo.
Na Igreja há prisões de seda para os casais bem unidos; mete o pescoço na canga, que eu sigo o mesmo caminho.
Quando não, desde aqui juro, pelo Santo mais bendito, não sairei destas serras senão para capuchinho.
Com isto deu o cabreiro remate ao seu cantar; e, ainda que D. Quixote lhe pediu cantasse mais alguma coisa, opôs-se Pança, que estava mais para dormir que para ouvir cantorias; e assim disse ao amo:
— Bem pode Vossa Mercê arranjar-se logo, e já onde tem de ficar esta noite, que o trabalho, em que estes bons homens levam o dia todo, não consente noitadas de cantarola.