E D. Quixote respondeu:
— Pois com essa promessa, bom Sancho, vou consolado, e creio que a cumprirás, porque efetivamente apesar de seres tonto, és homem verídico.
— Não sou verdito, nem verde, sou moreno — respondeu Sancho — mas ainda que fosse de furta-cores, havia de cumprir a minha palavra.
E nisto, voltaram para montar em Clavilenho; e quando ia a montar, disse D. Quixote.
— Tapa os olhos e sobe, Sancho, que quem de tão longes terras nos manda buscar, decerto não pretende enganar-nos, pela pouca glória que lhe resultaria de enganar quem se fia nele; e ainda que tudo sucedesse às avessas do que imagino, a honra de ter empreendido esta façanha não a poderá escurecer malícia alguma.
— Vamos, senhor — disse Sancho — que as barbas e as lágrimas destas senhoras tenho-as cravadas no coração e não comerei bocado que bem me saiba, enquanto não as vir na sua primitiva lisura.
Monte Vossa Mercê e tape os olhos, que, se tenho de ir à garupa, é claro que primeiro deve montar quem vai na sela.
— É verdade — redarguiu D. Quixote.
E tirando um lenço da algibeira, pediu à Dolorida que lhe tapasse muito bem os olhos, e, depois de lhos terem tapado, exclamou:
— Se bem me lembro, li em Virgílio o caso do Paládio de Troia, que foi um cavalo de madeira, que os gregos consagraram a Palas, e que ia cheio de cavaleiros armados, que depois foram a ruína da cidade de Príamo; e assim, será bom ver primeiro o que tem Clavilenho no estômago.
— Não é necessário — disse a Dolorida — que eu fico por ele, e sei que Malambruno nada tem de malicioso nem de traidor, e Vossa Mercê, senhor D. Quixote, monte sem receio, e em meu prejuízo redunde qualquer dano que tiver.
Pareceu a D. Quixote que tudo que dissesse a respeito