Sancho ficou pasmado da formosura da moça e perguntou-lhe quem era, aonde ia e por que motivo se vestia de homem.
Ela, com os olhos no chão, com honestíssima vergonha, respondeu:
— Não posso, senhor, dizer em público o que tanto me importava que fosse secreto; uma coisa, porém, quero que se entenda: é que não sou ladra, nem facínora, mas uma donzela infeliz, a quem a força de uns zelos obrigou a romper o decoro que à honestidade se deve.
Ouvindo isto, disse o mordomo para Sancho:
— Mande afastar todos, senhor governador, para que esta senhora, com menos empacho, possa dizer o que quiser.
Assim o ordenou o governador. Apartaram-se todos, menos o mordomo, o secretário e o mestre-sala.
Vendo que estavam sós, enfim, a donzela prosseguiu dizendo:
— Senhores, sou filha de Pedro Perez de Mazorca, arrematante das lenhas deste lugar, que muitas vezes costuma ir a casa de meu pai.
— Isso não pode ser, senhora! — acudiu o mordomo — Pedro Perez conheço eu perfeitamente e sei que não tem filho algum: nem rapaz, nem rapariga; além disso, dizeis que é vosso pai e logo acrescentais que costuma ir muitas vezes a casa de vosso pai!
— Com essa já eu tinha dado — disse Sancho.
— Agora, senhores, estou muito perturbada — respondeu a donzela — e não sei o que digo; mas o que é verdade é que sou filha de D. Diogo de la Llana, que Vossas Mercês todos devem conhecer.
— Isso é possível — observou o mordomo — que eu conheço muito bem D. Diogo