Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 55: CAPÍTULO LV - De coisas sucedidas a Sancho, e outras que não há mais que ver.

Página 446

Aqui o deixa Cid Hamete Benengeli e volta a tratar de D. Quixote, que, alvoroçado e contente, esperava que chegasse o dia da batalha que havia de travar com o sedutor da filha da dona Rodríguez, a quem tencionava desfazer o agravo que maldosamente lhe tinham feito. Sucedeu, pois, que, saindo uma manhã a ensaiar-se no que havia de fazer nesse lance, dando um repelão ou arremetida a Rocinante, chegou este a pôr os pés tanto à beira duma cova que, se D. Quixote não puxasse fortemente as rédeas ser-lhe-ia impossível não cair para dentro. Enfim, susteve-se e não caiu; e, chegando-se um pouco mais ao pé, sem se apear, mirou aquela profundeza, e, quando a estava mirando, ouviu grandes brados lá dentro, e, escutando atentamente, pôde perceber as seguintes palavras:

— Olá de riba! há aí algum cristão que me escuta? ou algum cavaleiro caritativo que se compadeça de um pecador enterrado em vida? de um desditoso governador desgovernado?

Pareceu a D. Quixote que aquela voz era a de Sancho Pança, e ficou assombrado e suspenso; e, levantando a voz o mais que pôde, disse:

— Quem está lá em baixo? quem se queixa?

— Quem há-de estar aqui, e quem se há-de queixar — responderam — senão o asno de Sancho Pança, governador, por seus pecados e por sua má fortuna, da ilha Barataria; escudeiro, que foi, do famoso cavaleiro D. Quixote de la Mancha?

Ouvindo isto, duplicou a admiração de D. Quixote, e acrescentou-se-lhe o pasmo, acudindo-lhe ao pensamento que Sancho Pança devia de ter morrido, e que era a sua alma que estava ali penando; e, levado por esta imaginação, disse:

— Esconjuro-te por tudo quanto posso esconjurar-te como cristão católico, para que me digas quem és; e, se fores alma penada, diz-me o que queres que por ti faça, que a minha profissão é favorecer e socorrer os necessitados deste mundo, e também os do outro que não podem ajudar-se a si próprios.

<< Página Anterior

pág. 446 (Capítulo 55)

Página Seguinte >>

Capa do livro Dom Quixote de La Mancha – Livro Segundo
Páginas: 593
Página atual: 446

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
SEGUNDA PARTE / CAPÍTULO I - Do que passaram o cura e o barbeiro com D. Quixote acerca da sua enfermidade. 1
CAPÍTULO II - Que trata da notável pendência, que Sancho Pança teve com a sobrinha e ama de D. Quixote, e de outros sucessos graciosos. 14
CAPÍTULO III - Do divertido arrazoamento que houve entre D. Quixote, Sancho Pança e o bacharel Sansão Carrasco. 20
CAPÍTULO IV - Em que Sancho Pança satisfaz ao bacharel Carrasco, acerca das suas dúvidas e perguntas, com outros sucessos dignos de se saber e de se contar. 29
CAPÍTULO V - Da discreta e graciosa prática que houve entre Sancho Pança e sua mulher Teresa Pança, e outros sucessos dignos de feliz recordação. 35
CAPÍTULO VI -Do que passou D. Quixote com a sua sobrinha e a sua ama, capítulo dos mais importantes desta história toda. 42
CAPÍTULO VII - Do que passou D. Quixote com o seu escudeiro, e outros sucessos famosíssimos. 48
CAPÍTULO VIII - Onde se conta o que sucedeu a D. Quixote, indo ver a sua dama Dulcineia del Toboso. 56
CAPÍTULO IX - Onde se conta o que nele se verá. 64
CAPÍTULO X - Onde se conta a indústria que Sancho teve para encantar a senhora Dulcineia, e outros sucessos tão ridículos como verdadeiros. 68
CAPÍTULO XI - Da estranha aventura que sucedeu a D. Quixote com o carro ou carreta das cortes da morte. 78
CAPÍTULO XII - Da estranha aventura que sucedeu a D. Quixote com o bravo cavaleiro dos espelhos. 85
CAPÍTULO XIII - Onde prossegue a aventura do cavaleiro da Selva, com o discreto, novo e suave colóquio que houve entre os dois escudeiros. 92
CAPÍTULO XIV - Onde prossegue a aventura do cavaleiro da Selva. 99
CAPÍTULO XV - Onde se conta e dá notícia de quem era o cavaleiro dos Espelhos e o seu escudeiro. 112
CAPÍTULO XVI - Do que sucedeu a D. Quixote com um discreto cavaleiro da Mancha. 115
CAPÍTULO XVII - Onde se declara o último ponto a que chegou e podia chegar o inaudito ânimo de D. Quixote, com a aventura dos leões, tão felizmente acabada. 126
CAPÍTULO XVIII - Do que sucedeu a D. Quixote no castelo ou casa do cavaleiro do Verde Gabão, com outras coisas extravagantes. 137
CAPÍTULO XIX - Onde se conta a aventura do pastor enamorado, com outros sucessos na verdade graciosos. 146
CAPÍTULO XX - Onde se contam as bodas de Camacho, o rico, e o sucesso de Basílio, o pobre. 154
CAPÍTULO XXI - Em que prosseguem as bodas de Camacho, com outros saborosos sucessos. 164
CAPÍTULO XXII - Onde se dá conta da grande aventura da cova de Montesinos, que está no coração da Mancha, e a que pôs feliz termo o valoroso D. Quixote. 171
CAPÍTULO XXIII - Das admiráveis coisas que o extremado D. Quixote contou que vira na profunda cova de Montesinos, coisas que, pela impossibilidade e grandeza, fazem que se considere apócrifa esta aventura. 180
CAPÍTULO XXIV - Onde se contam mil trapalhadas, tão impertinentes como necessárias ao verdadeiro entendimento desta grande história. 192
CAPÍTULO - XXV Onde se conta a aventura dos zurros, e o gracioso caso do homem dos títeres, com as memoráveis adivinhações do macaco. 199
CAPÍTULO XXVI - Onde continua a graciosa aventura do homem dos títeres, com outras coisas na verdade boníssimas. 210
CAPÍTULO XXVII - Onde se dá conta de quem eram mestre Pedro e o seu macaco, e também do mau resultado que tirou D. Quixote da aventura do zurro, a que não pôs o termo que desejava e pensava. 219
CAPÍTULO XXVIII - Das coisas que diz Benengeli, que saberá quem as ler, se as ler com atenção. 227
CAPÍTULO XXIX - Da famosa aventura do barco encantado. 233
CAPÍTULO XXX - Do que sucedeu a D. Quixote com uma bela caçadora. 241
CAPÍTULO XXXI - Que trata de muitas e grandes coisas. 247
CAPÍTULO XXXII - Da resposta que deu D. Quixote ao seu repreensor, com outros graves e graciosos sucessos. 256
CAPÍTULO XXXIII - Da saborosa prática que a duquesa e as suas donzelas tiveram com Sancho Pança, digna de que se leia e que se note. 271
CAPÍTULO XXXIV - Que dá conta da notícia que se teve de como se havia de desencantar a incomparável Dulcineia del Toboso, que é uma das aventuras mais famosas deste livro. 279
CAPÍTULO XXXV - Onde prossegue a notícia que teve D. Quixote, do desencantamento de Dulcineia, com outros admiráveis sucessos. 287
CAPÍTULO XXXVI - Onde se conta a estranha e nunca imaginada aventura de Dona Dolorida, aliás da condessa Trifaldi, com uma carta que Sancho Pança escreveu a sua mulher Teresa Pança. 295
CAPÍTULO XXXVII - Onde prossegue a famosa aventura da Dona Dolorida. 302
CAPÍTULO XXXVIII - Onde se conta o que disse das suas desventuras a Dona Dolorida. 305
CAPÍTULO XXXIX - Onde a Trifaldi prossegue na sua estupenda e memorável história. 312
CAPÍTULO XL - Das coisas que dizem respeito a esta aventura e a esta memorável história. 315
CAPÍTULO XLI - Da vinda de Clavilenho, com o fim desta dilatada aventura. 322
CAPÍTULO XLII - Dos conselhos que deu D. Quixote a Sancho Pança, antes de ele ir governar a ilha, com outras coisas bem consideradas. 333
CAPÍTULO XLIII - Dos segundos conselhos que deu D. Quixote a Sancho Pança. 339
CAPÍTULO XLIV - De como Sancho Pança foi levado para o governo, e da estranha aventura que sucedeu no castelo a D. Quixote. 345
CAPÍTULO XLV - De como Sancho Pança tomou posse da sua ilha, e do modo como principiou a governá-la. 355
CAPÍTULO XLVI - Da temerosa chuva de gatos barulhentos que recebeu D. Quixote, no decurso dos amores da enamorada Altisidora. 363
CAPÍTULO XLVII - Onde prossegue a narração do modo como se portava Sancho Pança no seu governo. 368
CAPÍTULO XLVIII - Do que sucedeu a D. Quixote com Dona Rodríguez, a dona da duquesa, com outros acontecimentos dignos de escritura e memória eterna. 378
CAPÍTULO XLIX - Do que sucedeu a Sancho Pança quando rondava a ilha. 387
CAPÍTULO L - Onde se declara quem foram os nigromantes e verdugos que açoitaram a dona, beliscaram e arranharam D. Quixote, com o sucesso que teve o pajem que levou a carta a Teresa Pança, mulher de Sancho Pança. 400
CAPÍTULO LI - Do progresso do governo de Sancho Pança, com outros sucessos curiosos. 410
CAPÍTULO LII - Onde se conta a aventura da segunda Dona Dolorida ou Angustiada, chamada por outro nome Dona Rodríguez. 419
CAPÍTULO LIII - Do cansado termo e remate que teve o governo de Sancho. 427
CAPÍTULO LIV - Que trata de coisas tocantes a esta história, e a nenhuma outra. 434
CAPÍTULO LV - De coisas sucedidas a Sancho, e outras que não há mais que ver. 443
CAPÍTULO LVI - Da descomunal e nunca vista batalha que houve entre D. Quixote de la Mancha e o lacaio Tosilos, em defesa da filha da dona da duquesa, Dona Rodríguez. 451
CAPÍTULO LVII - Que trata de como D. Quixote se despediu do duque, e do que sucedeu com a discreta e desenvolta Altisidora, donzela da duquesa. 457
CAPÍTULO LVIII - Que trata de como choveram em cima de D. Quixote tantas aventuras, que não tinha vagar para todas. 461
CAPÍTULO LIX - Onde se conta o extraordinário caso, que se pode chamar aventura, que aconteceu a D. Quixote. 474
CAPÍTULO LX - Do que sucedeu a D. Quixote no caminho de Barcelona. 483
CAPÍTULO LXI - Do que sucedeu a D. Quixote na entrada de Barcelona, com outras coisas que têm mais de verdadeiras que de discretas. 497
CAPÍTULO LXII - Que trata da aventura da cabeça encantada, com outras ninharias que não podem deixar de se contar. 501
CAPÍTULO LXIII - De como Sancho Pança se deu mal com a visita às galés e da nova aventura da formosa mourisca. 514
CAPÍTULO LXIV - Que trata da aventura que mais afligiu D. Quixote de todas quantas até então lhe tinham acontecido. 525
CAPÍTULO LXV - Em que se dá notícia de quem era o cavaleiro da Branca Lua, com a liberdade de D. Gregório e outros sucessos. 530
CAPÍTULO LXVI - Que trata do que verá quem o ler, ou do que ouvirá quem o ouvir ler. 536
CAPÍTULO LXVII - Da resolução que tomou D. Quixote de se fazer pastor e seguir a vida do campo, durante o ano da sua promessa, com outros sucessos, na verdade gostosos e bons. 542
CAPÍTULO LXVIII - Da aventura suína que aconteceu a D. Quixote. 548
CAPÍTULO LXIX - Do mais raro e mais novo sucesso, que em todo o decurso desta grande história aconteceu a D. Quixote. 554
CAPÍTULO LXX - Que se segue ao sessenta e nove e trata de coisas que não são escusadas para a clareza desta história. 560
CAPÍTULO LXXI - Do que sucedeu a D. Quixote com o seu escudeiro Sancho, quando ia para a sua aldeia. 568
CAPÍTULO LXXII - De como D. Quixote e Sancho chegaram à sua aldeia. 574
CAPÍTULO LXXIII - Dos agouros que teve D. Quixote ao entrar na sua aldeia, com outros sucessos que são adorno e crédito desta grande história. 580
CAPÍTULO LXXIV - De como D. Quixote adoeceu, e do testamento que fez, e da sua morte. 586