— Então — disse Sancho — já vejo que há-de ter vitela ou cabrito.
— Em casa agora não há nem cabrito, nem vitela — respondeu o estalajadeiro — porque se acabaram; mas, para a semana, há-de os haver a rodo.
— Lucramos muito com isso! — observou Sancho — Espero ao menos que todas estas faltas se remedeiem com fartura de toucinho e de ovos.
— Por Deus! que fraca memória tem o meu hóspede! — tornou o estalajadeiro — Pois se eu já lhe disse que não tenho nem frangas, nem galinhas, como quer que tenha ovos! Discorra por outros manjares delicados, mas não peça criação.
— Acabemos com isto — tornou Sancho; — diga-me, finalmente, o que tem e deixe-se de histórias.
— Senhor hóspede — redarguiu o vendeiro — o que tenho, real e verdadeiramente, são duas unhas de vaca, que parecem mãos de vitela, ou duas mãos de vitela, que parecem unhas de vaca. Cozeram-se com grão de bico, cebolas e toucinho, e agora estão mesmo a dizer: Comei-me! comei-me!
— Já não vão para mais ninguém, senão para nós — disse Sancho — que as havemos de pagar melhor do que quaisquer outros; porque eu por mim não podia esperar coisa de que mais gostasse, e não se me daria que fossem mãos de vaca, em vez de serem só unhas.
— Ninguém lhes tocará — afirmou o vendeiro — porque outros hóspedes que tenho são tão principais, que trazem consigo cozinheiro, despenseiro e mantearia.
— Se falamos em principais — disse Sancho — ninguém excede meu amo; mas o ofício que ele tem não permite despensas; assim, estendemo-nos no meio dum prado, e ali enchemos a barriga com bolotas ou nêsperas.
Esta foi a prática que Sancho teve com o vendeiro, sem querer ir mais adiante em responder às perguntas que ele lhe fazia sobre a profissão de seu amo. Chegou, pois, a hora da ceia; recolheu-se ao seu aposento D.