Entre eles uma pequena caixa de marfim, preta e branca, com tampa de correr. Era um objecto bonito e estendi a mão para a examinar mais de perto...
Foi pavoroso o grito que ele soltou - um grito que se deve ter ouvido na rua. Senti-me gelar e o cabelo pôs-se-me em pé. Virei-me e vi dois olhos horrorizados num rosto convulso. Estaquei com a caixinha na mão.
- Largue isso! Largue isso imediatamente, Watson! Já! Deixou cair a cabeça na almofada e soltou um profundo suspiro de alívio quando eu pousei a caixinha sobre o fogão. - Detesto que mexam nas minhas coisas, Watson. Você bem sabe que detesto. Está insuportável, Watson! Você, um médico... você enlouquece qualquer doente! Sente-se, homem, e deixe-me repousar!
O incidente causou-me uma impressão muito desagradável.
Toda aquela excitação violenta e despropositada, seguida de palavras tão brutais em nada condizentes com a habitual delicadeza de Holmes mostrava-me como o seu espirito se encontrava afectado. De todas as ruínas, a de um espírito nobre é a mais deplorável. Sentei-me, calado e deprimido, à espera que o tempo passasse. Holmes devia olhar o relógio tantas vezes quanto eu, pois, mal chegaram as seis horas, começou a falar com a mesma animação febril de anteriormente.
- Watson, tem trocos no bolso?
- Tenho.
- Prata?
- Bastante.
- Quantas meias coroas?
- Cinco.
- Ah, não chega! Não chega! Que pena, Watson! Porém, mesmo assim, pode pô-las no bolso do relógio. E o resto do dinheiro no bolso esquerdo das calças. Obrigado. Assim fica muito mais equilibrado.
Era a loucura. Holmes estremeceu e emitiu de novo um som entre um soluço e um resmungo.
- Agora vai acender o gás, Watson, mas terá o cuidado de não deixar que em momento algum passe do meio.