Mrs. Hudson esperava-me no corredor, trémula e chorosa. Ao sair, ouvi a voz fraca e aguda de Holmes, entoando uma cantilena delirante. Em baixo, quando assobiava a procura de um trem, aproximou-se de mim um homem, saído do nevoeiro.
- Como está Mr. Holmes, sir? - perguntou.
Era um velho conhecido, o inspector Morton, da Scotland Yard, vestindo um fato de tweed que lhe retirava todo o ar profissional.
- Está muito doente - respondi.
O inspector fitou-me da maneira mais estranha. Não receasse eu a minha perversidade e teria jurado que no seu rosto se abrira, à luz coada pela bandeira da porta, um brilho de exultação.
- Sim, ouvi dizer... - comentou.
O trem aproximara-se e deixei o inspector.
Lower Burker Street era uma sequência de belas casas na vaga fronteira entre Notting Hill e Kensington. Aquela junto da qual o trem parou possuía uma altiva e grave respeitabilidade no seu antigo gradeamento de ferro, na sua maciça porta dupla, nos seus latões reluzentes. Tudo impecável, com um mordomo solene que apareceu na aura cor-de-rosa de uma lâmpada eléctrica pintada.
- Sim, Mr. Culverton Smith está. Dr. Watson! Muito bem, sir, vou entregar-lhe o seu cartão.
O meu nome e o meu título, humildes, não pareceram impressionar Mr. Culverton Smith. Pela porta entreaberta ouvi uma voz alta, petulante, penetrante.
- Mas quem é? Que pretende? Francamente, Staples, quantas vezes lhe tenho dito que não quero ser perturbado durante as minhas horas de estudo?
Ouvi depois a explicação do mordomo, em voz apaziguadora e suave.
- Não, Staples, não recebo. Não posso ser interrompido assim! Diga-lhe que saí. Que venha de manhã, se realmente precisa falar-me.
De novo um murmúrio do mordomo.