A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 6: A AVENTURA DO DETECTIVE MORIBUNDO Pág. 132 / 210

O aspecto era, como antes, fantasmático, mas não delirava. Falava em voz fraca, decerto, mas com uma lucidez e uma determinação superiores, se possível, ao habitual.

- Então, Watson? Viu-o?

- Vi. Não tarda aí.

- Admirável, Watson! Admirável! Você é o melhor dos mensageiros.

- Ele queria acompanhar-me.

- Isso nunca podia ser, Watson. Impossível! Perguntou de que eu sofria?

- Sim. Disse-lhe que tinha a ver com os chineses de East End.

- Nem mais! Bom, Watson, você fez tudo o que um bom amigo podia fazer. Já pode ir-se embora.

- Tenho de esperar para ouvir a opinião dele, Holmes.

- Claro. Mas possuo boas razões para pensar que a opinião dele será muito mais franca e útil se souber que esta só comigo. Há aqui espaço atrás da cabeceira da cama, Watson...

- Meu caro Holmes!

- Não há alternativa, Watson. O quarto não se presta a esconder ninguém, o que é óptimo, pois não levanta suspeitas. Mas acho que aqui atrás, Watson, é perfeitamente possível... - De súbito, sentou-se com uma determinação obsessiva no rosto alterado. - Depressa, Watson! Depressa, homem, se gosta de mim: E não se mexa, aconteça o que acontecer. Aconteça o que acontecer, ouviu? Não fale! Não se mexa! Limite-se a ouvir atentamente.

Logo o acesso de energia morreu, e Holmes tornou da fala dominadora e objectiva aos vagos murmúrios arrastados de um homem a delirar.

Do esconderijo a que fora tão precipitadamente remetido, ouvi os passos na escada, o abrir e fechar da porta do quarto. Então, para minha surpresa, fez-se um longo silêncio, quebrado apenas pelo respirar ofegante do doente. Imaginei a visita de pé junto ao leito, observando Holmes. Por fim, o estranho silêncio cessou.





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