A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 6: A AVENTURA DO DETECTIVE MORIBUNDO Pág. 137 / 210

No entanto, como sabe, os meus hábitos são irregulares e um jejum destes significa menos para mim do que para a maior parte das pessoas. Era fundamental que eu impressionasse Mrs. Hudson com a realidade da minha condição, pois ela devia impressioná-lo a si, e você a Culverton Smith. Não está ofendido, pois não, Watson? Admita que a dissimulação não tem lugar entre os seus muitos talentos. Se estivesse a par do meu segredo, nunca seria capaz de impressionar Smith, de lhe transmitir a urgente necessidade da sua presença, vital para o êxito do plano. Conhecendo como conheço a sua natureza vingativa, tinha a certeza de que não deixaria de vir apreciar a sua obra.

- Mas o seu aspecto, Holmes, o seu rosto agónico…

- Três dias de jejum não melhoram o aspecto de ninguém, Watson. Quando ao resto, não há nada que uma esponja não possa curar. Com vaselina na frente, beladona num olho, rouge nas faces e camadas de cera à volta dos lábios, obtém-se um efeito muito satisfatório. Muitas vezes tenho pensado em escrever uma monografia sobre simulação de doenças. Uma conversa ocasional acerca de meias coroas, ostras ou outra qualquer coisa a despropósito produz um interessante efeito de delírio.

- Mas porque não me deixou aproximar se não havia riscos de uma infecção?

- Que pergunta, meu caro Watson! Pensa que não respeito os seus talentos profissionais? Imaginaria eu que o seu olho clínico se deixaria enganar por um moribundo sem febre e com pulso normal, apesar de fraco? A dois passos, consegui iludi-lo. Se não conseguisse, quem me traria Smith? Não, Watson, eu não tocaria na caixa. Se a observar de perto, verá o ponto onde a mola, aguçada como o dente de uma víbora, saltou ao correr da tampa.





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