Ele não se preocupava minimamente com a saúde - possuía uma extraordinária capacidade de abstracção - mas acabou por se deixar convencer, sob a ameaça de ficar para sempre incapacitado, a mudar de vida e de ares. Assim, no princípio da Primavera desse ano, encontrávamo-nos numa pequena casa de campo perto de Poldhu Bay, no extremo da península de Cornualha.
Era um local único e particularmente adequado ao humor sombrio do meu paciente. Das janelas da nossa casinha caiada, no cimo de um promontório verde, avistávamos o sinistro semicírculo de Mounts Bay, a antiga armadilha para barcos à vela com a sua orla de penhascos escuros e recifes levados pelo mar, onde inúmeros marinheiros haviam encontrado a morte. Com brisa de norte são águas abrigadas que convidam as embarcações sacudidas pelas tempestades a procurarem-nas para repouso e protecção.
É então que, de súbito, começa a soprar, em turbilhão, o vento, as devastadoras rajadas de sudoeste. As âncoras são puxadas, o mar empurra para a costa, a última batalha trava-se contra os penedos cobertos de espuma. O marinheiro prudente foge destas águas perversas.
Em terra as imediações eram tão sombrias como o mar. Terrenos pantanosos ondulados, solitários, de cor escura, com uma ocasional torre de igreja a assinalar a antiga aldeia recolhida no passado. Em todos os sentidos havia sinais de uma raça desaparecida, completamente desaparecida, que deixara como único vestígio estranhos monumentos de pedra, montes de pedras contendo as cinzas dos mortos e curiosas fortificações sugerindo lutas pré-históricas. A sedução e o mistério do local, com a sua sinistra atmosfera de nações esquecidas, moviam a imaginação do meu amigo, que passava muito do seu tempo em longos passeios e solitárias meditações nos pântanos.