E, pois, difícil imaginar como pôde um estranho ter causado impressão tão terrível, e também não conhecemos nenhum motivo para tão estranho e requintado propósito. Está a ver as nossas dificuldades, Watson?
- Quem não veria... - respondi, convicto.
- E contudo, se dispusermos de mais alguns dados, provaremos que não são inultrapassáveis. Suponho que nos seus vastos arquivos, Watson, encontrará casos quase tão obscuros como este. Para já, vamos pôr o problema de lado, até dispormos de pormenores mais esclarecedores e dedicar o resto da manhã à investigação do homem neolítico.
A capacidade que o meu amigo possuía, de abstrair do que muito bem entendia, era extraordinária, mas nunca tanto como naquela manhã de Primavera na Cornualha. Durante duas horas dissertou sobre os celtas, as flechas, os fragmentos de cerâmica, como se nenhum sinistro mistério aguardasse solução.
Quando regressámos a casa, à tarde, tínhamos uma visita e só então voltámos ao problema. Nenhum de nós precisou de apresentações. O corpo enorme, o rosto ossudo e profundamente enrugado, os olhos flamejantes, o nariz aquilino, o cabelo grisalho que quase varria o tecto da nossa casa, a barba - loura nas orlas e branca junto aos lábios, tirando a mancha de nicotina do seu perpétuo charuto - tudo isto era bem conhecido em Londres como em Africa e só podia representar a tremenda personalidade do Dr. Leon Sterndale, o grande explorador e caçador de leões.
Soubéramos da sua presença na região e uma ou duas vezes tínhamos avistado a sua alta figura entre os pântanos, Não procurou, contudo, abordar-nos nem nós pensámos em fazê-lo, conhecido como era o seu pendor solitário, que o levava a passar a maior parte do tempo entre as viagens num pequeno bangaló perdido no isolamento de Beauchamp Arriance.