Reconsiderou e com violento esforço recobrou a calma rígida e fria, que era talvez mais sugestiva de perigo do que a explosão de cólera.
- Vivi tantos anos entre selvagens e em terras sem lei - disse Sterndale - que me habituei a comportar-me segundo as minhas próprias regras. Convirá, Mr. Holmes, que não o esqueça, pois não tenho o menor desejo de lhe fazer mal.
- Nem eu a si, Dr. Sterndale. E a melhor prova disso é que, sabendo o que sei, mandei-o chamar e não à polícia.
Sterndale abriu a boca de espanto, talvez pela primeira vez na sua aventurosa vida. Da figura de Holmes emanava uma força tranquila, irresistível. O nosso visitante gaguejou por um momento, abrindo e fechando as mãos agitadas.
- Que quer dizer? - perguntou finalmente. - Se está a fazer bluff, Mr. Holmes, não podia ter escolhido pior homem para a sua experiência. Deixemo-nos de rodeios. Que quer dizer?
- Vou explicar-lhe e o motivo por que o faço: espero que a franqueza seja correspondida. O que eu fizer a seguir depende em absoluto do modo como se defender.
- Como eu me defender?
- Exactamente, sir.
- Defender de quê?
- Da acusação de ter assassinado Mortimer Tregennis.
Sterndale limpou a testa com o lenço.
- O senhor está a abusar, não há dúvida! Será que todos os seus êxitos dependem dessa prodigiosa capacidade de fazer bluff?
- Quem faz bluff é o senhor - disse Holmes com firmeza - e não eu. Para lho provar, vou contar-lhe alguns dos factos em que baseio a minha conclusão. Do seu regresso a Plymouth, depois de ter despachado para África grande parte da bagagem, direi apenas que foi a primeira indicação de que o senhor devia ser tomado em conta na reconstituição deste drama.