Lembro-me de ele me ter afogado em perguntas sobre a quantidade e o tempo que o veneno levava a produzir os seus efeitos, mas nunca me passou pela cabeça que Tregennis tivesse alguma razão para tanta pergunta.
"Nunca mais pensei no caso até receber o telegrama do vigário, em Plymouth. O patife pensara que eu já estivesse no mar quando a notícia me pudesse chegar e que, entretanto, ninguém mais, durante anos, ouviria falar de mim, uma vez que ia partir para Africa. Mas eu regressei logo. Claro que, mal soube dos pormenores, compreendi que o meu veneno fora usado. Procurei-o, Mr. Holmes, para apurar se o senhor concebera outra qualquer explicação. Mas não havia outra explicação. Convenci-me de que Mortimer Tregennis era o assassino. Agira por dinheiro, pensando talvez que se os outros membros da família endoidecessem ele ficaria com todos os seus bens. Utilizara para isso o pó de pé do diabo, enlouquecendo dois irmãos e matando a irmã, Brenda, o único ser humano que amei e que me teve amor em toda a minha vida. Fora este o seu crime; qual havia de ser o castigo?
"Deveria recorrer à justiça? Que provas tinha eu? Sabia a verdade, mas seria capaz de convencer um júri de camponeses de história tão fantástica? Talvez sim, talvez não. Não podia, no entanto, falhar. A minha alma reclamava vingança. Já lhe disse, Mr. Holmes, que, tendo vivido tantos anos em terras sem lei, acabei por me conduzir segundo as minhas próprias regras. Foi o que fiz. Decidi que a sorte a que condenara os outros seria a dele; eu faria justiça pelas minhas próprias mãos. Não existe em toda a Inglaterra homem que dê menos valor à vida do que eu, na presente situação.
»Contei-lhe tudo. O senhor sabe o resto.