- Quando lá chegar, meu caro Von Bork, penso que ficará surpreendido com a recepção. Por acaso, sei em que conta o seu trabalho neste país é tido nas mais altas instâncias.
Era um homem corpulento, o secretário, alto e largo, com um modo lento e pesado de falar que constituía o seu principal trunfo na política.
Von Bork riu.
- Este povo é fácil de iludir - observou. - Não há gente mais dócil, mais ingénua...
- Não sei - respondeu o outro, pensativo, - Têm estranhas limitações e há que aprender a observá-las. É essa simplicidade aparente que fez deles uma armadilha para os estrangeiros. À primeira vista, são absolutamente manobráveis; depois, de súbito, uma pessoa depara com algo muito duro, e percebe que atingiu o limite e que deve adaptar-se à realidade. Têm, por exemplo, as convenções insulares que devem simplesmente ser observadas.
- Refere-se às «boas maneiras» e a tudo isso? - perguntou Von Bork, suspirando como quem já sofreu muito.
- Refiro-me aos preconceitos britânicos em todas as suas excêntricas manifestações. Posso dar-lhe como exemplo um dos meus mais graves erros... permito-me falar dos meus erros porque você conhece suficientemente o meu trabalho para não ignorar os êxitos. Foi quando cá cheguei da primeira vez. Recebi convite para um fim-de-semana na casa de campo de um ministro. A conversa era espantosamente indiscreta.
Von Bork confirmou de cabeça.
- Também lá estive - disse secamente.
- Ora bem... Enviei, claro, para Berlim, um resumo do que ouvira. Infelizmente, o nosso bom chanceler é pouco cuidadoso nestas questões e despachou uma nota da qual se deduzia estar ele ao par do que fora dito. Como é óbvio, fui logo apontado como fonte da informação.