- Não sou uma pessoa com quem se possa brincar impunemente, como poderá ficar a saber agora. Foi o senhor que me pediu para participar numa série de experiências, foi o senhor que conquistou a minha afeição, que declarou o seu amor por mim, que me trouxe a sua fotografia, com algumas palavras afectuosas escritas pela sua mão, e foi o senhor que, na mesma noite, entendeu por bem prodigalizar todos os ultrajes, que se dirigiu a mim em termos que nenhum homem nunca ousou empregar a meu respeito. Diga-me que tais palavras lhe escaparam num momento de exaltação. Estou pronta a esquecer e a perdoar. Não queria dizer o que disse, Austin? Não me odeia realmente?
Teria podido sentir piedade desta mulher disforme, a tal ponto apareceram, de súbito, ardor e suplicação amorosa por detrás da ameaça do seu olhar.
Mas quando pensei nas provações que tinha atravessado, o meu coração ficou duro como o sílex.
- Se alguma vez me ouviu falar de amor - disse eu -, sabe muitíssimo bem que era a sua voz que falava e não a minha. A única linguagem sincera que alguma vez pude dirigir-lhe são as palavras que escutou aquando do nosso último encontro.
- Bem sei, alguém o pôs de sobreaviso contra mim. Deve ter sido ele?
E bateu no chão com a muleta.
- Ora bem - prosseguiu -, sabe muitíssimo bem que poderia obrigá-lo neste preciso momento a deitar-se a meus pés como um cão fraldeiro. Nunca mais me encontrará nas minhas horas de fraqueza em que pode insultar-me impunemente. Tenha cuidado com o que faz, professor Gilroy. O senhor está numa situação terrível. Ainda não se deu conta de todo o poder que tenho sobre a sua pessoa.
Encolhi os ombros e desviei a cabeça.
- Seja - prosseguiu ela após uma pausa -, se despreza o meu amor, verei o que pode fazer o temor.