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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 65

E chego agora ao fim deste extraordinário incidente com uma importância tão sombria, não apenas nas nossas vidas pequenas e individuais, mas na história geral da raça humana. Como disse quando iniciei a minha narrativa, quando essa história for escrita esta ocorrência sobressairá seguramente de todos os outros acontecimentos como uma montanha a agigantar-se entre os seus sopés. A nossa geração estava reservada para um destino muito especial, uma vez que foi escolhida para viver uma coisa tão maravilhosa. O tempo que os seus efeitos poderão durar - o tempo que a humanidade poderá preservar a humildade e reverência que este grande choque lhe ensinou, só pode ser visto no futuro. Creio que é seguro dizer que as coisas nunca mais voltarão a ser iguais. Uma pessoa nunca consegue perceber até que ponto é impotente e ignorante, e como é dominada por uma mão invisível, até essa mão ter por um instante parecido fechar-se e esmagar. A morte esteve iminente sobre nós. Sabemos que a qualquer momento poderá estar novamente. Essa presença ameaçadora ensombra as nossas vidas, mas quem pode negar que nessa sombra a sensação de dever, o sentimento de sobriedade e responsabilidade, a apreciação da gravidade e dos objectivos da vida, o desejo forte de desenvolver e melhorar, cresceram e tornaram-se reais em nós a um ponto que transformou toda a nossa sociedade de uma ponta à outra? É uma coisa que está para além de seitas e para além de dogmas. É antes uma alteração de perspectiva, uma mudança do nosso sentido de proporção, uma realização vívida de que somos criaturas insignificantes e evanescentes, que existimos no sofrimento e à mercê do primeiro vento gelado do desconhecido. Mas se o mundo se tornou mais sério com este conhecimento não se tornou, na minha opinião, um lugar mais triste em consequência disso. Seguramente, estamos de acordo em que quanto mais sóbrios e contidos são os prazeres do presente, tanto mais sábios e profundos do que a barafunda ruidosa, e disparatada que passava tão frequentemente por divertimento nos dias de antigamente - dias tão recentes e no entanto já tão inconcebíveis. Aquelas vidas vazias que eram desperdiçadas em inúteis visitas e ser-se visitado, na preocupação de casas grandes e desnecessárias, na preparação e ingestão de refeições sofisticadas e tediosas, encontraram agora descanso e saúde na leitura, na música, na suave comunhão familiar que advém de uma divisão mais simples e saudável do tempo.

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Capa do livro O Dia em que o Mundo Acabou
Páginas: 72
Página atual: 65

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 18
Capítulo 3 31
Capítulo 4 44
Capítulo 5 53
Capítulo 6 65