Recordo-me de estarmos todos sentados, ofegantes, nas nossas cadeiras, com aquela brisa doce e húmida de sudoeste, fresca, e vinda do mar, a abanar as cortinas de musselina e a refrescar os nossos rostos ruborizados. Pergunto a mim mesmo durante quanto tempo estivemos sentados! Mais tarde, nenhum de nós estava de acordo em relação a esse ponto. Estávamos assombrados, embasbacados, semiconscientes. Todos tínhamos arranjado coragem para a morte, mas aquele facto novo e temível - de que tínhamos de continuar a viver depois de termos sobrevivido à raça a que pertencíamos - atingiu-nos com o choque de uma pancada física, e deixou-nos prostrados. Depois, gradualmente, o mecanismo suspenso começou a mover-se uma vez mais; os mecanismos das memórias funcionaram; as ideias organizaram-se nas nossas mentes. Vimos, com uma clareza vívida e impiedosa, as relações entre o passado, o presente e o futuro - as vidas que tínhamos vivido e as vidas que teríamos de viver. Os nossos olhos voltaram-se num horror sem palavras para os nossos companheiros e descobrimos a mesma expressão interrogadora nos deles. Ao invés da alegria que seria de esperar que os homens sentissem depois de terem escapado por tão pouco a uma morte iminente, uma onda terrível da mais negra depressão submergiu-nos. Tudo o que amávamos na terra tinha sido levado para o oceano grande, infinito e desconhecido, e aqui estávamos nós presos nesta ilha deserta de um mundo, sem companheiros, esperanças ou aspirações. Alguns anos a fugir como chacais entre as sepulturas da raça humana e depois o nosso fim adiado e solitário chegaria.
- É pavoroso, George, pavoroso! - exclamou a senhora, numa agonia de soluços. - Se ao menos tivéssemos morrido com os outros! Oh, por que é que nos salvaste? Parece-me que somos nós que estamos mortos e todas as outras pessoas vivas.
As grandes sobrancelhas de Challenger estavam franzidas num pensamento concentrado, enquanto a sua mão enorme: e peluda se fechava sobre a mão esticada da mulher. Eu tinha observado que ela estendia sempre os braços para ele quando se sentia em apuros, como uma criança faria com a sua mãe.
- Sem ser fatalista ao ponto da não resistência - disse ele - achei sempre que a mais elevada sabedoria está na aquiescência com o presente. - Falou lentamente, e havia uma vibração de sentimento na sua voz sonora.
- Eu não aquiesço - disse Summerlee com firmeza.