- Esta última cláusula refere-se também, certamente, não só a quem o raptou, mas também a quem tiver conspirado para o conservar na sua actual situação.
- Sim, sim - disse o duque impacientemente. - Se trabalhar bem, Sr. Sherlock Holmes, não terá razões para se queixar de ter sido tratado com mesquinhez.
O meu amigo esfregou as mãos com uma aparente avidez que me surpreendeu por conhecer a frugalidade dos seus gostos.
- Calculo que o livro de cheques de Vossa Senhoria esteja em cima da sua secretária - disse ele. - Gostaria que me passasse um cheque de seis mil libras. Talvez seja bom cruzá-lo. O meu banco é The Capital and Counties Bank, Oxford Street.
O duque estava sentado muito direito e com uma atitude de extrema severidade na sua cadeira e olhava friamente para o meu amigo.
- Isto é alguma brincadeira, Sr. Holmes? O assunto não se presta a tal.
-De forma alguma, Vossa Senhoria. Nunca falei mais seriamente na minha vida.
- Então, que é que isso significa?
- Significa que ganhei a recompensa. Sei onde está o seu filho e sei quais foram, pelo menos algumas, as pessoas que o detêm.
A barba do duque ficara ainda mais avermelhada em contraste com a terrível palidez do seu rosto.
- Onde está ele? - exclamou com dificuldade.
- Está, ou estava ontem à noite, na estalagem Fighting Cock, a cerca de três quilómetros e meio dos portões da sua propriedade.
O duque deixou-se cair para trás na cadeira.
- Quem é que acusa?
A resposta de Sherlock Holmes foi absolutamente surpreendente. Deu rapidamente uns passos em frente e tocou o duque no ombro.
- Acuso-o a si - disse. - Agora, se quiser ter a maçada de passar o cheque...
Nunca me esquecerei do ar do duque, que se pôs de pé num salto e enclavinhou as mãos como quem se afunda num abismo.