Comas nossas máscaras de seda preta, que nos transformavam em duas das mais truculentas figuras de Londres, avançámos silenciosamente em direcção à casa sombria. Uma espécie de varanda coberta corria ao longo de um dos lados, para onde davam várias janelas e duas portas.
- Ali é o quarto dele - murmurou Holmes. - Esta porta dá directamente para o escritório. Seria a que melhor nos serviria, mas tem um cadeado, além de estar fechada à chave, e faríamos demasiado barulho a tentar entrar. Venha por aqui. Há uma estufa que dá para a sala de estar.
A estufa estava fechada à chave, mas Holmes retirou um círculo de vidro e deu a volta à chave da parte de dentro. Instantes depois, fechara já a porta atrás de nós e tornámo-nos nessa altura delinquentes aos olhos da lei. O ar quente e pesado da estufa e a fragrância forte e intoxicante das plantas exóticas incomodaram-nos a garganta. Holmes agarrou-me a mão na escuridão e guiou-me rapidamente por entre canteiros de arbustos que nos iam roçando pelo rosto. Holmes tinha poderes extraordinários, cuidadosamente cultivados, para ver na escuridão. Ainda a segurar na minha mão, abriu uma porta e apercebi-me vagamente de que tínhamos entrado numa grande sala onde alguém fumara um charuto há pouco tempo. Caminhou por entre a mobília, tacteando, abriu uma outra porta e fechou-a depois de passarmos. Estendi a mão e senti vários casacos pendurados na parede e percebi que era um corredor. Avançámos, e Holmes abriu silenciosamente uma porta do lado direito. Passou qualquer coisa por nós e o coração saltou-me para a boca, mas, se pudesse, ter-me-ia rido do meu susto quando me apercebi de que era apenas o gato.