Com a sua natural falta de vista e com a mudança do escuro para a luz, estava como que encadeada, piscando os olhos para ver onde estávamos e quem eramos. E, no entanto, apesar de todas estas desvantagens, havia uma certa nobreza no porte da mulher - uma galanteria no queixo erguido em desafio e na sua cabeça orgulhosamente erecta que transpirava respeito e admiração.
Stanley Hopkins tinha colocado a mão no seu braço e declarou que estava presa, mas ela afastou-o brandamente, mas com uma dignidade avassaladora que exigia obediência. O velho estava recostado na cadeira com o rosto a contorcer-se nervosamente e a olhar para ela com uma expressão sombria.
- Sim, sei que estou presa - disse. - Donde estava ouvia tudo e agora sei que descobriram a verdade. Confesso tudo. Fui eu que matei o jovem. Mas tem razão... o senhor diz que foi um acidente. Nem sequer percebi que aquilo que tinha na mão era uma faca pois, no meu desespero, agarrei a primeira coisa que estava em cima da mesa e bati-lhe para ele me largar. Estou a contar a verdade.
- Minha senhora - disse Holmes - tenho a certeza de que fala verdade. Mas receio que não se esteja a sentir nada bem.
De facto, estava com uma péssima cor, que parecia ainda pior devido ao rosto sujo. Sentou-se na beira da cama e retomou o seu relato.
- Tenho pouco tempo para aqui estar - disse - mas quero que saibam toda a verdade. Sou a mulher deste homem. Ele não é inglês. É russo. O seu nome não direi.
O homem reagiu pela primeira vez.
- Deus te abençoe. Anna! - exclamou. - Deus te abençoe!
Ela lançou-lhe um olhar de profundo desdém.
- Por que é que te hás-de agarrar tanto à tua miserável vida, Sergius? - disse. - Causou mal a tantos e bem a ninguém.