O primeiro-ministro fez um gesto de aprovação com a cabeça.
- Há muito tempo que conheço o seu elevado sentido de dever público - disse. - Estou convencido de que no caso de um segredo tão importante como este ele se sobreporia aos mais íntimos laços familiares.
O secretário de Estado para os Assuntos Europeus baixou a cabeça.
- O senhor faz-me justiça. Até esta manhã não dissera urna palavra sobre o caso à minha mulher.
- Ela podia ter calculado?
- Não, Sr. Holmes, não podia ter calculado... ninguém poderia calcular.
- Já alguma vez perdeu quaisquer documentos?
- Não, senhor.
- Aqui em Inglaterra quem é que sabia da existência desta carta?
- Todos os membros do Governo foram informados ontem do documento, mas o compromisso de sigilo inerente a todas as reuniões do Governo foi reforçado por um solene aviso feito pelo primeiro-ministro. Santo Deus, pensar que passadas poucas horas eu próprio perderia o documento! - O seu rosto contorceu-se num esgar de desespero e puxou os cabelos com as mãos. Por instantes, pudemos ver o homem natural, impulsivo, ansioso, altamente sensível. Mas a máscara aristocrática foi imediatamente assumida e voltou a falar num tom brando. - Além dos membros dó Governo que têm conhecimento do documento, apenas dois, possivelmente três funcionários superiores é que sabem também da sua existência. Garanto-lhe que em Inglaterra mais ninguém sabe.
- E no estrangeiro?
- Creio que no estrangeiro, à excepção do homem que a escreveu, mais ninguém tem conhecimento da carta. Estou absolutamente convencido de que os seus ministros... os canais oficiais usuais, não foram utilizados.
Holmes reflectiu durante algum tempo.
- Terei de lhe perguntar agora em maior pormenor o que é esse documento e por que é que o seu desaparecimento teria consequências tão terríveis.