Junto da janela, havia uma sumptuosa escrivaninha, e todos os pormenores da sala, os quadros, os tapetes e os cortinados revelavam um gosto luxuoso tocando as raias da efeminação.
- Viu as notícias de Paris? - perguntou Lestrade. Holmes assentiu. - Desta vez, os nossos amigos franceses parecem ter acertado. Não há dúvida de que é como dizem. Ela bateu à porta... creio que lhe fez uma visita surpresa, pois ele dividia a sua vida em compartimentos absolutamente estanques... e ele deixou-a entrar, pois não a podia deixar ficar na rua. Ela disse-lhe como é que o tinha localizado e recriminou-o. Uma coisa levou a outra e, com o punhal ali ao seu alcance, o fim não tardou. Foi tudo feito num instante, pois estas cadeiras estavam todas afastadas e ele tinha agarrado nesta como se a tentasse manter à distância com ela. É tudo tão claro como se tivéssemos visto a cena.
Holmes ergueu as sobrancelhas.
- E, no entanto, chamou-me aqui?
- Ah, sim, essa é outra questão... uma bagatela, mas é o tipo de coisa que costuma atrair o seu interesse... é estranho, poderia mesmo dizer-se uma aberração. Não tem nada a ver com o facto principal... não pode ter, analisando bem as coisas.
- Que é?
- Bom, o senhor sabe que depois de um crime destes temos muito cuidado em deixar tudo exactamente conforme estava. Não tirámos nada daqui. Tem cá estado um guarda dia e noite. Esta manhã, como o homem já foi enterrado e a investigação terminara... no que se refere a esta sala... pensámos que devíamos arrumar um pouco isto. Esta carpeta. Repare que não está fixada ao chão, apenas posta por cima. Tivemos oportunidade de a levantar. Encontrámos...
- Sim? Encontraram...
O rosto de Holmes ficou tenso de ansiedade.