bandos das suas montanhas e oferecem os seus serviços, por baixo preço, a quem deles precisar. É o único mester em que ganham dinheiro. Sustentam a vida procurando a morte. Batem-se com valentia, coragem e lealdade, por aqueles que lhes pagam, mas nunca se alistam por tempo determinado. Apenas aceitam alistar-se na condição de, no dia seguinte, se passarem para o adversário, se este lhes pagar melhor, e, no outro dia, voltarem para os senhores anteriores, por um pouco mais de dinheiro.
É raro haver uma guerra sem que haja grande número de zapoletos nos dois campos opostos. Assim, acontece diariamente que parentes próximos, que se alistaram do mesmo lado, e que então se davam irmãmente, dentro em pouco, separados em partidos opostos, encarniçada e ferozmente se batem, esquecendo a família e a amizade, cruzando as espadas violentamente, pela simples razão de terem sido arregimentados pelo príncipe inimigo por uma soldada um pouco maior. A isso os leva a paixão pelo dinheiro, que, no fim de contas, de nada lhes serve, pois o que ganham em combate gastam-no imediatamente na devassidão mais torpe.
Este povo luta pelos Utopianos contra todos os outros povos, porque estes lhes pagam muito melhor que qualquer outra nação. Os Utopianos, que procedem com honestidade em relação às pessoas honestas, procuram sempre abusar desta gente infame e viciosa, a quem, com promessas de grandes recompensas, enviam para os maiores perigos, dos quais a grande maioria já não volta para reclamar o prometido. Aos que sobrevivem, porém, pagam religiosamente o que lhes tinham prometido, para encorajá-los a afrontar mais tarde perigo igual. Não se preocupam se grande número de zapoletos morrer, pois acreditam que farão uma boa acção à humanidade se libertarem a terra de um povo tão infame e maldito. Além destes, utilizam ainda os soldados
