A ele atribuem a origem, os progressos, as mudanças e o fim de todas as coisas. A ele só dão honras divinas.
Todos os utopianos, apesar das crenças diversas, concordam com os mais sábios, acreditando que este é o maior e o supremo Deus, criador e senhor do universo, a quem na sua língua chamam Mirra. Discordam, porém, num ponto: cada um lhe atribui uma forma diferente. Mas, todos eles, qualquer que seja a forma atribuída, adoram sob a mesma natureza a divindade única e majestosa, reconhecendo o seu poder supremo sobre todas as coisas, que lhe pertencem, segundo a crença unânime de todos os povos.
Pouco a pouco tendem a abandonar esta multiplicidade de superstições e a adoptar esta religião, que a razão lhes mostra como mais excelente e virtuosa que as outras; E, sem dúvida, os outros cultos há muito teriam sido abolidos, se não fossem as desgraças acontecidas por vezes aos que estão decididos a mudar de religião, desgraças que o povo interpreta não como um acaso, mas como vingança do deus cujo culto eles iam abandonar e que assim castiga o seu propósito iníquo.
Quando, no entanto, nos ouviram falar do nome de Cristo, da sua doutrina, leis e milagres, e da maravilhosa constância de tantos mártires, cujo generoso sangue conquistou para a doutrina tantas nações da terra, ficaríeis espantados com a alegria com que receberam esta revelação; ou por inspiração secreta de Deus ou porque o cristianismo lhes parecesse semelhante à religião que entre eles é a mais importante.
Penso, porém, que o que mais poderosamente contribuiu para isso foi terem-nos ouvido dizer, entre outras coisas, que Cristo instituiu a comunidade de todos os bens e que essa mesma comunidade ainda hoje é seguida nas sociedades verdadeiramente cristãs.