e que muitas vezes, no meio de perigos e em circunstâncias duvidosas, as preces públicas, a fé viva e a confiança lhes alcançaram esses milagres.
Pensam que Deus aprecia a contemplação da natureza pelos homens e o seu louvor por ela, encontrando-se no entanto entre eles bastantes cidadãos que, possuídos dum fervor religioso imenso, desdenham o estudo e a aplicação no conhecimento das coisas. Desprezam, porém, a ociosidade, acreditando que a felicidade extra-terrena se alcança com trabalhos e serviços prestados aos outros.
Alguns deles tratam dos doentes, outros reparam as estradas e pontes, limpam canais, cortam a pedra, extraem o carvão e o cascalho, cortam e serram a madeira e transportam-na em carros, o mesmo fazendo com cereais e outros produtos, para as cidades, trabalhando não só nas tarefas públicas, como para os particulares, como criados mais humildes que os escravos. Executam voluntariamente e com alegria os trabalhos mais desagradáveis, duros e baixos que em outras terras geralmente repugnam, a fim de facilitarem um repouso maior aos seus semelhantes. Entregam-se a um trabalho contínuo, não censurando os outros por o não fazerem igualmente, nem glorificando-se do bem que praticam.
Quanto mais se rebaixam, mais se elevam na consideração dos outros homens. Dividem-se em duas seitas: uns vivem solteiros e em estado de castidade, abstendo-se não só da companhia de mulheres, como de comer carne, e alguns chegam mesmo a renunciar a utilizar qualquer animal na sua alimentação. Rejeitam os prazeres da vida presente, aspirando à vida futura, com vigílias e suores, embora permanecendo alegres, e vigorosos.
Os outros, não menos desejosos de servir, preferem casar-se, apreciando as vantagens do casamento pensando que não podem