Deste modo se encontram sem recursos e só lhes resta morrer de fome ou corajosamente atreverem-se a roubar. Pois que haveriam eles de fazer? Depois de o uso e a vagabundagem lhes terem feito os fatos em farrapos e arruinado a saúde, os nobres recusam os seus serviços, enojados pelas suas faces doentias e pelos andrajos que os cobrem. E nem os camponeses os aceitam, sabendo bem como serão incapazes de manejar a enxada e o alvião e de dedicadamente os servirem, pelo fraco salário e má alimentação que lhes poderão dar, habituados como estão à ociosidade e aos prazeres, a trazerem espada e escudo, olhando para os outros com ar brigão e tendo-se a si próprios em alta conta.
- Por Santa Maria - respondeu o advogado -, pelo contrário. É essa a espécie de homens que melhor devemos tratar. Pois eles possuem maior robustez, ousadia e coragem que um artesão ou lavrador, e neles está o poder, a força e a firmeza do nosso exército, no campo de batalha.
- Na verdade, Sire, o mesmo será dizer que, por causa da guerra, será necessário tratar bem os ladrões. Ora, seguramente eles não faltarão, enquanto tal gente existir. Pois nem os ladrões serão os piores soldados nem os soldados os ladrões mais cobardes, de tal maneira estes dois ofícios se assemelham. Esta praga, embora tão frequente em Inglaterra, é comum a todas as nações. Contudo, a França encontra-se afectada e afligida por uma peste muito pior. Todo o reino está infestado e ocupado por soldados mercenários, mesmo em tempo de paz, se a isso se pode