«Não conseguiria melhores resultados nos conselhos dos reis; porque, ou a minha opinião é contrária à deles, e então é o mesmo que estar calado, ou coincide com a deles e, como Mitio diz numa obra de Terêncio, contribuo para aumentar a sua loucura. Não vejo a que poderá levar o processo sinuoso e hábil em que quereis que me exercite, com o pretexto de que, quando se não pode chegar à perfeição, se deve proceder com habilidade para ao menos atenuar, na medida do possível, o mal.
«Não há, no entanto, dissimulação ou ocultação possível: trata-se de aprovar abertamente conselhos detestáveis e de votar decretos perigosos. E aquele que elogia de ânimo leve deve ser considerado pior que um espião e quase tão nefasto como um traidor. Nem será possível praticar o bem, pois, na companhia de tal gente, mais facilmente um homem honesto se per- verte do que os converte para a virtude. No seu contacto, ou se é corrompido ou, então, a pureza,e a virtude servem de manto à corrupção e à loucura dos outros, sendo-nos atribuída a sua imoralidade. Portanto, não há esperança alguma de transformar o mal em bem, seguindo o vosso processo indirecto e sinuoso.
«Eis a razão por que Platão declarava que os sábios se devem