O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 172 / 478

- Oh filha! murmurava o escrevente.

Mas os sapatos da mãe rangeram na escada, e Amélia foi vivamente para o aparador acender o candeeiro.

A S. Joaneira parou à porta; e para dar a sua primeira aprovação maternal, disse, com bonomia:

- Então vocês estão aqui às escuras, filhos?

Foi o cônego Dias que participou ao padre Amaro o casamento de Amélia, uma manhã na Sé. Falou no ''a propósito do enlace'', e acrescentou:

- Eu estimo, porque é a contento da rapariga, e é um descanso para a pobre velha...

- Está claro, está claro... - murmurou Amaro, que se fizera muito branco.

O cônego pigarreou grosso, e ajuntou:

- E você agora apareça por lá, agora está tudo na ordem... A patifaria do jornal isso pertence à história... O que lá vai, lá vai!

- Está claro, está claro... - rosnou Amaro. Traçou bruscamente a capa, saiu da igreja.

Ia indignado; e continha-se, para não praguejar alto, pelas ruas. à esquina da viela das Sousas quase esbarrou com Natário, que o agarrou, logo, pela manga, para lhe soprar ao ouvido:

- Ainda não sei nada!

- De quê?

- Do liberal, do Comunicado. Mas trabalho, trabalho!

Amaro, que ansiava por desabafar, disse logo:

- Então ouviu a novidade? O casamento de Amélia... Que lhe parece?

- Disse-me o animal do Libaninho. Diz que o rapaz apanhou o emprego... Foi o doutor Godinho... E outro que tal!... Veja você esta corja. O doutor Godinho do jornal às bulhas com o governo civil, e o governo civil a atirar postas aos afilhados do doutor Godinho. Vá lá entendê-los! Isto é um país de biltres!

- Diz que há grande alegrão na casa da S. Joaneira! - disse o pároco, com um azedume negro.





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