Amélia não se queria separar da mãe, e, como a casa tinha acomodações, os noivos viveriam no primeiro andar, e a S. Joaneira dormiria no quarto em cima; decerto o senhor cônego ajudaria para o enxoval; podiam ir passar a lua-de-mel para a fazenda da D. Maria. E Amélia àquelas perspectivas felizes fazia-se toda escarlate, sob o olhar da mãe que, de luneta na ponta do nariz, a admirava, babosa.
Ás Ave-Marias a S. Joaneira fechou-se embaixo no seu quarto a rezar a sua coroa, e deixou Amélia só "para se entender com o rapaz". - Dai a pouco, com efeito, João Eduardo bateu à campainha. Vinha muito nervoso, de luvas pretas, enfrascado em água-de-colônia. Quando chegou à porta da sala de jantar não havia luz, e a bonita forma de Amélia destacava de pé, junto à claridade da vidraça. Ele pôs o xale-manta a um canto como costumava, e vindo para ela que ficara imóvel, disse-lhe, esfregando muito as mãos:
- Lá recebi a cartinha, menina Amélia.
- Eu mandei-a pela Ruça logo pela manhã para o pilhar em casa - disse ela imediatamente com as faces a arder.
- Eu ia para o cartório, até já ia na escada... Haviam de ser nove horas...
- Haviam de ser... - disse ela.
Calaram-se, muito perturbados. Ele então tomou-lhe delicadamente os pulsos, e baixo:
- Então sempre quer?
- Quero, murmurou Amélia.
- E o mais depressa possível, hem?
- Pois sim...
Ele suspirou, muito feliz.
- Havemos de nos dar muito bem, havemos de nos dar muito bem, dizia. E as suas mãos, com pressões temas, iam-se apoderando dos braços dela, dos pulsos aos cotovelos.
- A mamã diz que podemos viver juntos, disse ela, esforçando-se por falar tranquilamente.
- Está claro, e eu vou mandar fazer lençóis, acudiu ele, todo alterado.
Atraiu-a então a si, subitamente, beijou-lhe os lábios; ela teve um soluçozinho, abandonou-se-lhe entre os braços, toda fraca, toda lânguida.