O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 179 / 478

Que quer saber o que é isso de sacerdotes ajanotados tentando meninas bonitas... Enfim, palavras textuais de sua excelência - está decidido a limpar as cavalariças de Augias!... - o que quer dizer em bom português, minha senhora, que vai andar tudo numa roda-viva.

Houve uma pausa consternada. E Natário, plantado no meio da saleta com as mãos enterradas nas algibeiras, exclamou:

- Que lhes parece esta à última hora, hem?

O cônego ergueu-se pachorrentamente:

- Olhe, colega, disse, entre mortos e feridos há-de escapar alguém. E a senhora não se fique ai com essa cara de Mater dolorosa, e mande servir o chá, que é o importante.

- Eu lá disse ao padre Saldanha... - começou Natário perorando.

Mas o cônego interrompeu-o com força:

- O padre Saldanha é um patarata!... Vamos nós às torradinhas, e lá em cima, diante dos rapazes, caluda.

O chá foi silencioso. O cônego, a cada bocado de torrada, respirava afrontado, franzia muito o sobrolho: a S. Joaneira, depois de falar da D. Maria da Assunção que estava mal do catarro, ficou toda murcha, com a testa sobre o punho. Natário, a grandes passadas, fazia uma ventania na sala com as abas do casacão.

- E quando vem essa boda? exclamou ele, estacando subitamente diante de Amélia e do escrevente, que tomavam o chá sobre o piano,

- Um dia cedo, respondeu ela sorrindo.

Amaro então ergueu-se devagar, e tirando o seu cebolão:

- São horas de me ir chegando à Rua das Sousas, minhas senhoras, disse com uma voz desalentada.

Mas a S. Joaneira não consentiu. Credo, estavam todos monos como se estivessem de pêsames!... Que fizessem um quino para espairecer... - O cônego porém, saindo do seu torpor, disse com severidade:

- Está a senhora muito enganada, ninguém está mono. Não há razões senão para estar alegre. Pois não é verdade, senhor noivo?





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