João Eduardo mexeu-se, sorriu:
- Eu cá por mim, senhor cônego, não tenho razão senão para estar feliz.
- Pois está claro, disse o cônego. E agora Deus lhes dê boas-noites a todos, que eu vou quinar para vale de lençóis. E o Amaro também.
Amaro foi apertar silenciosamente a mão de Amélia, - e os três padres desceram calados.
Na saleta a vela ainda ardia com um morrão. O cônego entrou a buscar o seu guarda-chuva; e então, chamando os outros, cerrando devagarinho a porta, disse-lhes baixo:
- Eu, colegas, não quis assustar há pouco a pobre senhora, mas essas coisas do chantre, esses falatórios... É o diabo!
- É ter cautelinha, meninos! aconselhou Natário, abafando a voz.
- É sério, é sério, murmurou lugubremente o padre Amaro.
Estavam de pé no meio da saleta. Fora o vento uivava: a luz da vela agitada fazia alternadamente destacar e reentrar na sombra do quadro o osso frontal da caveira: e em cima Amélia cantarolava a Chiquita.
Amaro recordava outras noites felizes em que ele, triunfante e sem cuidados, fazia rir as senhoras, - e Amélia, gorjeando Ai chiquita que si, revirava-lhe olhares rendidos...
- Eu, disse o cônego, os colegas sabem, tenho que comer e beber, não me importa... Mas é necessário manter a honra da classe!
- E não carece dúvida, acrescentou Natário, que se há outro artigo e mais falatórios, estala com certeza o raio...
- Olha o padre Brito, murmurou Amaro, esfogueteado para a serra!
Em cima decerto houve alguma graça, porque sentiram as risadas do escrevente.
Amaro rosnou com rancor:
- Grande galhofa lá em cima!...
Desceram. Ao abrir a porta uma rajada de vento bateu a face de Natário duma chuva miudinha.
- Olha que noite! exclamou furioso.