O Crime do Padre Amaro - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 334 / 478

O cônego então endireitou-se; bufou outra vez com o seu grande sopro de encalmado, e coçou vivamente a coroa.

- Bem, disse, erguendo-se. Adeus, pequena... Agasalha-te. Não te constipes...

Saiu; e ao fechar com força a porta exclamou alto:

- Isto é a infâmia das infâmias! Eu mato-o! eu perco-me!

Esteve um momento considerando, e partiu para a Rua das Sousas, de guarda-sol em riste, apressando a sua obesidade, com a face apoplética de furor. No Largo da Sé, porém, parou a refletir ainda; e rodando sobre os tacões, entrou na igreja. Ia tão levado que, esquecendo um hábito de quarenta anos, não dobrou o joelho ao Santíssimo. E arremessou-se para a sacristia - justamente quando o padre Amaro saía, calçando cuidadosamente as luvas pretas que usava agora sempre para agradar à Ameliazinha.

O aspecto descomposto do cônego assombrou-o.

- Que é isso, padre-mestre?

- O que é, exclamou o cônego de golpe, é a maroteira das maroteiras! É a sua infâmia! é a sua infâmia!...

E emudeceu, sufocado de cólera.

Amaro, que se fizera muito pálido, balbuciou:

- Que está você a dizer, padre-mestre?

O cônego tomara fôlego:

- Não há padre-mestre! O senhor desencaminhou a rapariga! Isso é que é uma canalhice mestra!

O padre Amaro, então, franziu a testa como descontente dum gracejo:

- Que rapariga!? O senhor está a brincar?

Sorriu mesmo, afetando segurança; e os seus beiços brancos tremiam.

- Homem, eu vi! berrou o cônego.

O pároco, subitamente aterrado, recuou:

- Viu?

Imaginara, num relance, uma traição, o cônego escondido num recanto da casa do tio Esguelhas...

- Não vi, mas é como se visse! - continuou o cônego num tom tremendo. - Sei tudo. Venha de lá. Disse-mo a Totó.





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