- Ora vamos nós agora conversar, amiguinha... Esta é que é a pernita doente, hem? Coitadita! Deixa que te hás-de curar... Hei-de pedir a Deus... Fica por minha conta.
Ela fazia-se ora toda branca ora toda vermelha, olhando aqui e além, inquieta, na perturbação que lhe dava aquele homem a sós com ela tão perto que lhe sentia o hálito forte.
- Então, ouve cá, disse ele chegando-se mais para ela, fazendo ranger o catre com o seu peso. Ouve cá, quem é o outro? Quem é que vem com a Amélia?
Ela respondeu logo, atirando as palavras dum fôlego:
- É o bonito, é o magro, vêm ambos, sobem para o quarto, fecham- se por dentro; são como cães!
Os olhos do cônego injetaram-se para fora das órbitas:
- Mas quem é ele, como se chama? O teu pai que te disse?
- É o outro, é o pároco, o Amaro! fez ela impaciente.
- E vão para o quarto, hem? Lá para cima? E tu que ouves, tu que ouves? Diz tudo, pequena, diz tudo!
A paralítica então contou, com um furor que dava tons sibilantes à sua voz de tísica, - como ambos entravam, e a vinham ver, e se roçavam um pelo outro, e abalavam para o quarto em cima, e estavam lá uma hora fechados...
Mas o cônego, com uma curiosidade lúbrica que lhe punha uma chama nos olhos mortiços, queria saber os detalhes torpes:
- E ouve lá, Totozinha, tu que ouves? Ouves ranger a cama?
Ela respondeu com a cabeça afirmativamente, toda pálida, os dentes cerrados.
- E olha, Totozinha, já os viste beijarem-se, abraçarem-se? Anda, diz, que te dou dois pintos.
Ela não descerrava os lábios; e a sua face transtornada parecia ao cônego selvagem.
- Tu embirras com ela, não é verdade?
Ela fez que sim numa afirmação feroz de cabeça.
- E viste-os beliscarem-se?
- São como cães! soltou ela por entre os dentes.