O Crime do Padre Amaro - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 333 / 478

- Ora vamos nós agora conversar, amiguinha... Esta é que é a pernita doente, hem? Coitadita! Deixa que te hás-de curar... Hei-de pedir a Deus... Fica por minha conta.

Ela fazia-se ora toda branca ora toda vermelha, olhando aqui e além, inquieta, na perturbação que lhe dava aquele homem a sós com ela tão perto que lhe sentia o hálito forte.

- Então, ouve cá, disse ele chegando-se mais para ela, fazendo ranger o catre com o seu peso. Ouve cá, quem é o outro? Quem é que vem com a Amélia?

Ela respondeu logo, atirando as palavras dum fôlego:

- É o bonito, é o magro, vêm ambos, sobem para o quarto, fecham- se por dentro; são como cães!

Os olhos do cônego injetaram-se para fora das órbitas:

- Mas quem é ele, como se chama? O teu pai que te disse?

- É o outro, é o pároco, o Amaro! fez ela impaciente.

- E vão para o quarto, hem? Lá para cima? E tu que ouves, tu que ouves? Diz tudo, pequena, diz tudo!

A paralítica então contou, com um furor que dava tons sibilantes à sua voz de tísica, - como ambos entravam, e a vinham ver, e se roçavam um pelo outro, e abalavam para o quarto em cima, e estavam lá uma hora fechados...

Mas o cônego, com uma curiosidade lúbrica que lhe punha uma chama nos olhos mortiços, queria saber os detalhes torpes:

- E ouve lá, Totozinha, tu que ouves? Ouves ranger a cama?

Ela respondeu com a cabeça afirmativamente, toda pálida, os dentes cerrados.

- E olha, Totozinha, já os viste beijarem-se, abraçarem-se? Anda, diz, que te dou dois pintos.

Ela não descerrava os lábios; e a sua face transtornada parecia ao cônego selvagem.

- Tu embirras com ela, não é verdade?

Ela fez que sim numa afirmação feroz de cabeça.

- E viste-os beliscarem-se?

- São como cães! soltou ela por entre os dentes.





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