Amaro curvou-se, servilmente.
- O Sr. padre Amaro, disse o conde de Ribamar, foi criado de pequeno em casa de minha sogra. Nasceu lá, creio eu...
- Saiba o senhor conde que sim, disse Amaro, que se conservava afastado, com o guarda-sol na mão.
- Minha sogra, que era toda devota e uma completa senhora - já não há disso! - fê-lo padre. Houve até um legado, creio eu... Enfim, aqui o temos pároco... Onde, Sr. padre Amaro?
- Feirão, excelentíssimo senhor.
- Feirão?... disse o ministro estranhando o nome.
- Na serra da Gralheira, informou logo o outro sujeito, ao lado.
Era um homem magro, entalado numa sobrecasaca azul, muito branco de pele, com soberbas suíças dum negro de tinta, e um admirável cabelo lustroso de pomada, apartado até ao cachaço numa risca perfeita.
- Enfim, resumiu o conde, um horror! Na serra, uma freguesia pobre, sem distrações, com um clima horrível...
- Eu meti já requerimento, excelentíssimo senhor, arriscou Amaro timidamente.
- Bem, bem, afirmou o ministro. Há-de arranjar-se, - e mascava o seu charuto.
- É uma justiça, disse o conde. Mais, é uma necessidade! Os homens novos e ativos devem estar nas paróquias difíceis, nas cidades... É claro! Mas não; olhe, lá ao pé da minha quinta, em Alcobaça, há um velho, um gotoso, um padre-mestre antigo, um imbecil!... Assim perde-se a fé.
- É verdade, disse o ministro, mas essas colocações nas boas paróquias devem naturalmente ser recompensas dos bons serviços. É necessário o estímulo...
- Perfeitamente, replicou o conde; mas serviços religiosos, profissionais, serviços à Igreja, não serviços aos governos.