O homem das soberbas suíças negras teve um gesto de objeção.
- Não acha? perguntou-lhe o conde.
- Respeito muito a opinião de vossa excelência, mas se me permite... Sim, digo eu, os párocos na cidade são-nos dum grande serviço nas crises eleitorais. Dum grande serviço!
- Pois sim. Mas...
- Olhe vossa excelência, continuou ele, sôfrego da palavra. Olhe vossa excelência em Tomar. Por que perdemos? Pela atitude dos párocos. Nada mais.
O conde acudiu:
- Mas perdão, não deve ser assim; a religião, o clero não são agentes eleitorais.
- Perdão.., queria interromper o outro.
O conde suspendeu-o, com um gesto firme; e gravemente, em palavras pausadas, cheias da autoridade dum vasto entendimento:
- A religião, disse ele, pode, deve mesmo auxiliar os governos no seu estabelecimento, operando, por assim dizer, como freio...
- Isso, isso! murmurou arrastadamente o ministro, cuspindo películas mascadas de charuto.
- Mas descer às intrigas, continuou o conde devagar, aos imbróglios... Perdoe-me meu caro amigo, mas não é dum cristão.
- Pois sou-o, senhor conde, exclamou o homem das suíças soberbas. Sou-o a valer! Mas também sou liberal. E entendo que no governo representativo... Sim, digo eu... com as garantias mais sólidas...
- Olhe, interrompeu o conde, sabe o que isso faz? desacredita o clero, e desacredita a política.
- Mas são ou não as maiorias um princípio sagrado? gritava rubro o das suíças, acentuando o adjetivo.
- São um principio respeitável.
- Upa! upa, excelentíssimo senhor! Upa!
O padre Amaro escutava, imóvel.
- Minha mulher há-de querer vê-lo, disse-lhe então o conde. E dirigindo-se a um reposteiro que levantou: - Entre. É o Sr. padre Amaro, Joana!
Era uma sala forrada de papel branco acetinado, com móveis estofados de casimira clara.