O Crime do Padre Amaro - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 423 / 478

Se vossa excelência caminha em frente, perseguindo a sombra, ela vai-lhe adiante, fugindo...

- Física recreativa, muito interessante! murmurou o escrivão de direito ao ouvido de Amaro.

Mas o pároco não o escutava; bailava-lhe já na imaginação "o famoso estratagema". Ah! mal voltasse a Leiria, havia de tratar Amélia como uma sombra e fugir-lhe para ser seguido... - E o resultado delicioso ali estava - três páginas de paixão, com manchas de lágrimas no papel.

Na quinta-feira apareceu, com efeito. Amélia esperava-o no terraço, donde estivera desde manhã vigiando a estrada com um binóculo de teatro. Correu a abrir-lhe o portãozinho verde no muro do pomar.

- Então, por aqui! disse-lhe o pároco, subindo atrás dela ao terraço.

- É verdade, como estou sozinha...

- Sozinha?

- A madrinha está a dormir e a Gertrudes foi à cidade... Tenho estado toda a manhã aqui ao sol.

Amaro ia penetrando pela casa, sem responder; diante duma porta aberta parou, vendo um grande leito de dossel, e em redor cadeiras de couro de convento.

- É o seu quarto aqui, hem?

- É.

Ele entrou familiarmente, com o chapéu na cabeça.

- Muito melhor que o da Rua da Misericórdia. E boas vistas... São as terras do Morgado, além...

Amélia cerrara a porta, e indo direita a ele, com os olhos chamejantes:

- Por que não respondeste a minha carta?

Ele riu:

- É boa! E por que não respondeste tu às minhas? Quem começou?

Foste tu. Dizes que não queres pecar mais. Também eu não quero pecar mais. Acabou-se...

- Mas não é isso! exclamou ela pálida de indignação. É que há a pensar na criança, na ama, no enxoval... Não é abandonar-me para aqui!...





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