!...
Ele pôs-se sério, e com um tom ressentido:
- Peço perdão... Eu prezo-me de ser um cavalheiro. Tudo isso há-de ficar arranjado antes de voltar para a Vieira...
- Tu não voltas pra Vieira!
- Quem é que diz isso?
- Eu, que não quero que vás!
Pusera-lhe fortemente as mãos nos ombros, retendo-o, apoderando-se dele: e ali mesmo, sem reparar na porta apenas cerrada, abandonou-se-lhe como outrora.
* * *
Dai a dois dias o abade Ferrão apareceu restabelecido do seu ataque de reumatismo. Contou a Amélia a bondade do Morgado, que chegara a mandar-lhe todas as tardes, num aparelho de lata com água quente, uma galinha cozida em arroz. Mas era sobretudo a João Eduardo que devia a caridade melhor; todas as suas horas vagas as passava ao pé da cama, lendo-lhe alto, ajudando-o a voltar, ficando com ele até à uma hora da noite num zelo de enfermeiro. Que rapaz! Que rapaz!
E de repente, tomando as mãos ambas de Amélia, exclamou:
- Diga-me, dá licença que eu lhe conte tudo, que lhe explique?... Que arranje que ele perdoe, e esqueça... E que se faça este casamento, se faça esta felicidade?
Ela balbuciou espantada, toda escarlate:
- Assim de repente... Não sei... Hei-de pensar...
- Pense. E Deus a alumie! disse o velho com fervor.
Era nessa noite que Amaro devia entrar pelo portalzinho do pomar de que Amélia lhe dera a chave. Infelizmente tinham esquecido a matilha do caseiro. E apenas Amaro pôs o pé dentro do pomar rompeu pelo silêncio da noite escura um tão desabrido ladrar de cães - que o senhor pároco abalou pela estrada, batendo o queixo de terror.