.. Estou perdida!
Fez-se muito pálida, os olhos cerraram-se-lhe.
Sebastião amparou-a, levou-a meio desmaiada para o sofá de damasco amarelo. E ficou de pé, mais descorado que ela, com as mãos nos bolsos do seu jaquetão azul, imóvel, estúpido.
De repente correu fora, trouxe um copo de água, borrifou-lhe o rosto ao acaso. Ela abriu os olhos, as suas mãos errantes apalparam em redor, fitou-o espantada, e deixando-se cair sobre o braço do canapé, com o rosto escondido nas mãos, rompeu num choro histérico.
O seu chapéu caíra. Sebastião apanhou-o, sacudiu-lhe delicadamente as flores, pô-lo sobre a jardineira com cuidado; e vindo nas pontas dos pés debruçar-se junto dela:
- Então! Então! - murmurava. E as suas mãos, tocando-lhe de leve o braço, tremiam como folhas.
Quis dar-lhe água para a sossegar: ela recusou com a mão, endireitou-se devagar no sofá, limpando os olhos, assoando-se com grandes soluços.
- Desculpe, Sebastião, desculpe - dizia. Bebeu então um gole de água, ficou com as mãos no regaço, quebrada; e, uma a uma, as suas lágrimas silenciosas caíam sem cessar.
Sebastião foi fechar a porta - e vindo ao pé dela com muita doçura:
- Mas então? Que foi?
Ela ergueu para ele a sua face chorosa, onde os olhos brilhavam febrilmente, olhou-o um momento, e deixando pender a cabeça, toda humilhada:
- Uma desgraça, Sebastião, uma vergonha! - murmurou.
- Não se aflija! Não se aflija!
Sentou-se ao pé dela, e baixo, com solenidade:
- Tudo o que eu puder, tudo o que for necessário, aqui me tem!
- Oh, Sebastião!... - exclamou num impulso de reconhecimento humilde; e acrescentou: - Acredite, tenho sido bem castigada! O que eu tenho sofrido, Sebastião!
Esteve um momento com os olhos cravados no chão; e agarrando-lhe o braço de repente, com força, as palavras romperam abundantes e precipitadas, como os borbulhões de uma água comprimida que rebenta.