- A senhora! A senhora D. Luísa, a mulher do Sr. Carvalho, o Engenheiro... E o Sr. Jorge está em casa do Sr. Sebastião. Ali ao fim da rua. Se Vossa Senhoria lá quer ir...
- Não! - fez Basílio com um gesto rápido da mão. Os beiços tremiam-lhe um pouco. - Mas que foi?
- Uma febre! Rapou-a em dois dias!
Basílio dirigiu-se ao cupê devagar, com a cabeça baixa. Olhou mais uma vez para a casa; fechou com força a portinhola. O Pintéus bateu para a Baixa.
O Paula então aproximou-se do estanque:
- Não lhe fez muita mossa! Fidalgos! Canalha! - murmurou.
A estanqueira disse lamentosamente:
- Pois eu não sou parenta, e todas as noites lhe rezo dois padre-nossos por alma...
- E eu! - suspirou a carvoeira.
- Há de lhe isso servir de muito! - rosnou o Paula, afastando-se.
Estava ultimamente mais amargo. Vendia pouco. Aquelas mortes na rua traziam-no desconfiado da vida. Cada dia detestava mais os padres! E todas as noites lia a Nação que lhe emprestava o Azevedo, repastando-se com rancor de artigos devotos que o exasperavam, o impeliam para o ateísmo; e o descontentamento das coisas públicas inclinava-o para a comuna. Como ele dizia, achava tudo uma porcaria.
Foi decerto sob este sentimento que, voltando-se à porta do estanque, disse às vizinhas com um ar lúgubre:
- Sabem o que isto é? Sabem o que tudo isto é? - Fazia um gesto que abrangia o Universo. Fitou-as de um modo irado, e rosnou esta palavra suprema:
- Um monte de estrume!
Ao descer a Rua do Alecrim, Basílio viu o Visconde Reinaldo à porta do Hotel Street. Mandou parar o Pintéus, e saltando do cupê:
- Sabes?
- O quê?
- Minha prima morreu.
O Visconde Reinaldo murmurou polidamente:
- Coitada!...
E foram descendo a rua, de braço dado, até ao Aterro.