A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 13 / 182

Depois, cego por súbitas lágrimas, desceu desajeitadamente as escadas do Biltmore.

III

Cerca das nove horas dessa mesma noite dois homens saíram de um restaurante barato da Sexta A venida. Eram feios, mal alimentados, desprovidos de tudo excepto da mais baixa forma de inteligência, e sem mesmo aquela exuberância animal que, só por si, dá colorido à vida. Estavam cheios de piolhos, tinham frio e fome numa cidade suja de uma terra estranha. Eram pobres e desamparados; empurrados como escolhos à deriva desde que nasceram, continuariam a ser empurrados como escolhos à deriva até morrerem. Usavam o uniforme do Exército dos Estados Unidos e tinham nos ombros insígnias de uma divisão especial de Nova Jersey, chegada três dias antes.

O mais alto dos dois chamava-se Carrol Key, nome que sugeria que nas suas veias, embora muito diluído por gerações de degradação, corria sangue com alguma potencialidade. Mas poder-se-ia olhar longamente para a cara comprida e sem queixo, os olhos tristes e agudos, as maçãs do rosto proeminentes, sem se encontrar um indício quer de valor ancestral, quer de mérito inato.

O companheiro era escuro e com pernas arqueadas, tinha olhos de rato e um nariz muito aquilino. O seu ar de desafio era, obviamente, fingido - uma arma de protecção copiada desse mundo de rosnadelas e dentadas, de fanfarronadas e de ameaças físicas em que sempre tinha vivido. Chamava-se Gus Rose.

Saindo do café deambularam pela Sexta Avenida, mascando palitos com grande deleite e perfeita indiferença.

- Para onde vamos? - perguntou Rose num tom revelado r de que não ficaria surpreendido se Key sugerisse as ilhas dos mares do sul.

- Que é que achas se tentássemos arranjar bebidas? - Ainda não existia a lei seca.





Os capítulos deste livro