As Máscaras do Destino - Cap. 9: O SOBRENATURAL Pág. 71 / 80

.. a própria princesa Anastácia, a própria filha do czar da Rússia... As fantasias deitaram-se à obra, e ei-las numa azáfama, digna de melhor objetivo, a bordar sem cessar as mais belas flores quiméricas na trama do aborrecimento e da banalidade alfacinhas. Puseram-lhe o nome de Gatita Blanca por andar sempre vestida de duras sedas brancas e ter os olhos verdes, oblíquos e semicerrados dos felinos. A Gatita Blanca sabia tudo, compreendia tudo embora falasse pouco; na inquietadora imobilidade das suas atitudes, tinha realmente um não sei quê, um vago ar de mistério que inquietava e dispunha mal.

A discussão eternizava-se. Mário de Meneses, irritado, nervoso, acendia os cigarros uns nos outros, mas não bebia. Os camaradas e as duas raparigas, cálices após cálices, iam esgotando as garrafas. Eram mais pastosas, mais aveludadas as vozes deles; mais melodiosas, menos agudas as das mulheres. Uma delas, estendida no divã, fazia já uns vagos gestos de bebé que se ajeita para dormir; a outra, com a cabeça encostada à mesa, metia os caracóis loiros num prato cheio de restos de perdiz.

A Gatita Blanca fumava sempre, sem uma palavra. Castro Franco, já bêbedo, queria à viva força que lhe dissessem o que era um burguês. Teimava, praguejava, insistia, largava a discussão, parecia ceder, para passados momentos voltar à mesma, numa obsessão de bêbedo, numa teima que nada fazia remover, que ninguém fazia calar. Queria por força saber o que era um burguês.

- Mas, afinal, vocês não me dizem o que é um burguês?

- É todo o homem que tem dinheiro -, disse a rapariga do divã, num ar sonolento, enfastiado, de quem quer fechar uma conversa que já lhe não interessa.

- Nada disso - respondeu Castro Franco, levando a mão ao bolso. -Eu tenho aqui dinheiro.





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