O médico pôs mais ataduras no ferimento, deu-me uma dose de morfina e mandou que me levassem para Sietamo. Os hospitais em Sietamo eram barracões de madeira, construídos às pressas, onde os feridos ficavam, via de regra, apenas algumas horas antes de serem mandados para Barbastro ou Lerida. Eu me sentia banzeiro por causa da morfina, mas a dor continuava acentuada, achava-me praticamente incapaz de fazer qualquer movimento, e engolia sangue todo o tempo. Era bem típico de hospitais espanhóis o fato de que, enquanto estive nesse estado, a enfermeira tentasse enfiar a refeição regulamentar do hospital - um enorme prato de sopa, ovos, ensopado gorduroso e assim por diante - por minha garganta abaixo, e parecesse surpresa quando me recusei a ingerir aquilo. Pedi um cigarro, mas estávamos atravessando um dos períodos de falta absoluta do artigo, e não se achou um só em todo o lugar. Não tardou para que dois camaradas, tendo obtido licença para deixarem a linha de frente por algumas horas, surgissem ao lado de minha cama.
- Olá! Está vivo, não é? Ótimo! Queremos seu relógio, seu revólver e sua lanterna elétrica. E mais a faca, se tiver.
Saíram dali com todos os meus pertences portáteis. Sempre acontecia isso quando alguém era ferido - tudo quanto possuía era logo dividido, e nada mais justo, pois os revólveres, relógios e objetos assim constituíam preciosidades na linha de frente, e se percorressem a linha com pertences de um ferido certamente seriam roubados em algum ponto.
A noite já se acumulara uma quantidade suficiente de doentes e feridos para lotar algumas ambulâncias, e eles nos mandaram para Barbastro. Que viagem! Costumava-se dizer que naquela guerra a coisa ia bem para quem fosse ferido nas extremidades, mas sempre morria quem estivesse ferido no abdômen. Agora compreendo por quê.