Quando penso na antiguidade, o detalhe que me assusta é que centenas de milhões de escravos, em cujas costas a civilização se escorou por gerações sucessivas, não deixaram qualquer registro histórico, Nem sequer conhecemos seus nomes. Em toda a história grega ou romana, quantos nomes de escravos se tornaram conhecidos? Só consigo pensar em dois, talvez três. Um é Espártaco, o outro Epícteto. No salão romano do Museu Britânico encontramos uma jarra de vidro com o nome de seu fabricante escrito no fundo: "Felix fecit". Faço um quadro mental visualizando o pobre Félix (gaulês de cabelo vermelho e aro de metal em volta ao pescoço), mas na verdade ele pode não ter sido escravo, de modo que restam apenas dois nomes conhecidos, e devem ser poucos os que conseguem lembrar-se de mais. Os outros, todos, desapareceram em silêncio completo.