Homenagem à Catalunha - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 185 / 193

Não há motivo para crer que tal estado de coisas se modificará, enquanto perdurar algum domínio totalitário. Não compreendemos ou percebemos todas as suas implicações, porque em nosso pensamento místico acreditamos que um regime fundamentado na escravidão tem de cair. Mas vale a pena comparar a duração dos impérios escravistas da antiguidade à de qualquer estado moderno. Civilizações fundamentadas na escravidão perduraram até quatro mil anos.

Quando penso na antiguidade, o detalhe que me assusta é que centenas de milhões de escravos, em cujas costas a civilização se escorou por gerações sucessivas, não deixaram qualquer registro histórico, Nem sequer conhecemos seus nomes. Em toda a história grega ou romana, quantos nomes de escravos se tornaram conhecidos? Só consigo pensar em dois, talvez três. Um é Espártaco, o outro Epícteto. No salão romano do Museu Britânico encontramos uma jarra de vidro com o nome de seu fabricante escrito no fundo: "Felix fecit". Faço um quadro mental visualizando o pobre Félix (gaulês de cabelo vermelho e aro de metal em volta ao pescoço), mas na verdade ele pode não ter sido escravo, de modo que restam apenas dois nomes conhecidos, e devem ser poucos os que conseguem lembrar-se de mais. Os outros, todos, desapareceram em silêncio completo.





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