Mas a pista mostra-se realmente, muito simples. São, todos eles, gente que tem algo a perder, ou gente que anseia por uma sociedade hierárquica e receia a possibilidade de um mundo de seres humanos livres e iguais. Por trás de toda a bobagem que circula a respeito da Rússia "sem Deus" e o "materialismo" da classe trabalhadora, encontramos a intenção simples daqueles que têm dinheiro ou privilégios aos quais se aferrar. O mesmo ocorre, embora contenha uma verdade parcial, com toda a falação a respeito da falta de valor de uma reconstrução social que não seja acompanhada por uma "modificação do coração". Os elementos piedosos, desde o Papa até os iogues da Califórnia, dão grande valor a essa "modificação do coração", que se mostra em seu ponto de vista muito mais importante do que uma modificação no sistema econômico. Pétam atribui a queda da França ao "amor ao prazer por parte das pessoas comuns". É possível ver isso na despectiva certa quando se pára a fim de imaginar quanto prazer contém a vida de um camponês ou trabalhador francês comum, comparada à de Pétam. A impertinência cretina desses políticos, sacerdotes, literatos e o que mais for, que repreendem o socialista da classe trabalhadora por seu "materialismo"! Tudo quanto o trabalhador exige é o que esses outros considerariam o mínimo indispensável para si próprios, sem o que a vida humana não pode ser vivida. O suficiente para comer, libertação quanto ao pavor que causa o desemprego, o conhecimento de que os filhos terão oportunidade justa, um banho diário, roupa de cama limpa com frequência razoável, um teto que não tenha goteiras, o horário de trabalho bastante curto para deixar um pouco de energia no corpo, ao encerrar-se o dia de trabalho. Nem um só dos que pregam contra o materialismo consideraria a vida coisa digna de viver, sem dispor dessas coisas.