Em meu segundo dia no quartel, teve início o que bem humoradamente era chamado "instrução". De começo, houve cenas da mais pavorosa bagunça. Em sua maioria os recrutas eram rapazinhos de 16 ou 17 anos, vindos das ruas pobres de Barcelona, cheios de ardor revolucionário mas inteiramente ignorantes quanto ao significado da guerra. Era impossível fazer com que se mantivessem em forma. Não havia qualquer disciplina, e quando um deles não gostava de determinada ordem saía das fileiras e ia discuti-la veementemente com o oficial. O tenente que nos proporcionava instrução era um rapaz forte e de expressão animada, que fora anteriormente oficial do Exército Regular e ainda o parecia ser, com seu uniforme impecável e porte marcial. Por curioso que pareça, era socialista sincero e ardoroso. Ainda mais do que os próprios homens, ele insistia na completa igualdade social entre todas as patentes. Lembro-me de sua surpresa dolorida, quando um recruta ignorante dirigiu-se a ele tratando-o como "Señor".
- O quê? Señor? Quem me chama de Señor? Pois não somos todos camaradas?
Duvido muito de que tal atitude lhe facilitasse o trabalho. Enquanto isso, os recrutas mais bisonhos não recebiam qualquer preparo que lhes pudesse ser útil. Disseram-me que os estrangeiros não estavam obrigados a comparecer à "instrução" (e notei que os espanhóis tinham a crença patética de que todos os estrangeiros conheciam melhor as coisas de milícia do que eles próprios), mas naturalmente apresentei-me com os demais. Estava ansioso por aprender como utilizar uma metralhadora, arma que jamais tivera a oportunidade de manejar. Para meu desalento, verifiquei que não nos ensinavam coisa alguma a respeito do uso de armas.