As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 118 / 339

E o motivo residia nisto: durante o Verão este reino está infestado de mosquitos, e estes odiosos insectos, tão grandes como as cotovias de Dunstable, não me deixavam sossegado enquanto comia, com o seu contínuo zumbido em volta das minhas orelhas. Às vezes pousavam na comida, deixando nela os excrementos nauseabundos e os ovos, coisas que para mim eram claramente visíveis; o mesmo não acontecia com os nativos daquele país que, tendo embora uma excelente visão, não conseguiam ver como eu os objectos pequenos. Às vezes colocavam-se à minha frente, picando-me dolorosamente no nariz; deitavam um cheiro muito desagradável; e era-me fácil seguir o rasto daquela matéria viscosa que, segundo os nossos naturalistas, permite a essas criaturas caminhar pelo tecto de cabeça para baixo. Tornava-se muito cansativo defender-me destes detestáveis animais e não conseguia deixar de estremecer quando se aproximavam da cara. O anão costumava apanhar com a mão alguns destes insectos, como fazem os miúdos na escola, e soltava-os de repente e intencionalmente debaixo do meu nariz para assustar-me e divertir a rainha. A minha única defesa era feri-los em voo com o meu canivete, exercício em que se admirava muito a minha destreza.

Certa manhã Glumdalclitch colocara-me na minha caixa e pusera-a no parapeito de uma janela, coisa que fazia regularmente quando o tempo estava bom, de forma a eu respirar ar puro (pois não permitia que segurassem a caixa a um prego, do lado de fora de uma janela, como fazemos com as gaiolas em Inglaterra). Depois de ter aberto um postigo e ter-me sentado à mesa para comer um pedaço de pastel como parte do pequeno-almoço, umas vinte vespas, atraídas pelo cheiro, entraram na habitação, zumbindo tanto como uma orquestra de gaitas de fole.





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