As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 213 / 339

Além disso, como está muito espalhada a queixa quanto à fraca e acanhada memória dos validos dos príncipes, o mesmo doutor propunha que qualquer visitante de um primeiro-ministro, uma vez exposto o seu assunto com a máxima brevidade e o léxico mais simples, ao despedir-se do referido ministro devia torcer-lhe o nariz, dar-lhe um pontapé na barriga, pisar-lhe os calos do pé ou aprontar-lhe três puxões de orelhas, espetar-lhe uma agulha nas nádegas ou fazer-lhe uma nódoa negra com um beliscão no braço, de forma a que o ministro se lembrasse dele. Esta acção deveria ser repetida nas audiências seguintes até que o assunto tomasse solução definitiva, para um lado ou outro.

Defendia também que todos os senadores da assembleia nacional, uma vez emitida e defendida a respectiva opinião, deveriam votar abertamente contra; se assim fosse feito, tal medida surtiria efeitos muito benéficos para o bem público.

Se os partidos se tornassem violentos, eis um excelente método de reconciliação. Reúnem-se cem cabecilhas de cada partido. Cada um deles é junto a um adversário com um tamanho de cabeça parecido; em seguida, dois peritos cirurgiões realizam uma bissecção simultânea de cada occipício do par em causa, de forma a que o cérebro fique igualmente dividido em dois. Efectua-se uma troca de cada uma das metades, ficando cada um deles com parte da cabeça do adversário. É claro que esta operação requer muita precisão, mas o professor assegurou-nos que o tratamento era infalível se executado com perícia. Argumentava da seguinte maneira: que todas as metades de cérebros discutiriam o assunto entre si dentro do mesmo crânio, o que levaria rapidamente a uma mútua compreensão e à consequente moderação, a um ajustamento do pensamento desejável na cabeça daqueles que se julgam nascidos para estar atentos e para conduzir os movimentos dó mundo.





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