As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 85 / 339

CAPÍTULO I

Descrição de uma grande tempestade. Envia-se uma chalupa a terra em busca de água; com ela segue o autor para explorar a região. É abandonado na costa, recolhido por um nativo e levado para uma quinta. Como é recebido e diversas peripécias que lhe sucedem. Descrição dos habitantes.

A natureza e o destino tinham-me condenado a uma vida activa e inquieta. Dois meses após o meu regresso voltei a abandonar a pátria, embarcando nas Downs em 20 de Junho de 1702 no Adventure, comandado pelo capitão John Nicholas, um oficial oriundo da Cornualha, com destino a Surat. Tivemos vento de feição até chegarmos ao Cabo da Boa Esperança, onde desembarcámos para nos abastecermos de água potável; mas tendo descoberto um canal, descarregámos as mercadorias e passámos o Inverno ali; além disso, por ter adoecido o comandante com paludismo, não pudemos abandonar o Cabo até finais de Março. Zarpámos então e tivemos uma agradável viagem até que cruzámos os estreitos de Madagáscar; mas já a norte daquela ilha, e a cerca de cinco graus de latitude sul, os ventos que, conforme se sabe, sopram de noroeste naqueles mares com uma intensidade igual e constante desde princípios de Dezembro até começos de Maio, a 19 de Abril começaram a soprar com muito maior violência e mais para o quadrante poente do que o habitual, e assim continuaram durante vinte dias; isto levou-nos um pouco para leste das ilhas Molucas e a uns três graus para norte do Equador, tal como verificou o nosso comandante a 2 de Maio. Em tal data cessou o vento e o mar ficou em completa calmaria, pelo que senti um enorme regozijo.





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