Histórias Extraordinárias - Cap. 1: MÃO ESCURA Pág. 6 / 136

Por fim, virou-se para mim com o movimento brusco do homem que acaba de desembaraçar-se do seu derradeiro escrúpulo.

- Conheço-o pouco, dr. Hardacre - começou. - Apesar disso, parece-me que é exactamente o homem que eu desejava encontrar.

- Isso muito me lisonjeia, senhor.

- Tenho a impressão de que é uma pessoa calma e de que possui sangue-frio. Não pense que procuro lisonjeá-lo, porque as circunstâncias são demasiado graves para que eu falte, por pouco que seja, à verdade. O senhor possui certos conhecimentos acerca destes temas que aborda naturalmente sob o ponto de vista do filósofo, o que o deixa ao abrigo de um terror vulgar. Suponho que o espectáculo de uma aparição não o perturbará por aí além.

- Penso que não, senhor.

- E até talvez mesmo lhe interesse?

- Apaixonadamente!

- Na sua qualidade de observador psíquico, irá sem dúvida investigar este problema particular de um modo tão impessoal como um astrónomo investiga um cometa que ande a passear?

- Exactamente.

Soltou um profundo suspiro.

- Acredite, dr. Hardacre, que tempo houve em que eu teria sido capaz de falar-lhe como o senhor agora fala. Nas Índias, o domínio dos meus nervos era proverbial. Nem mesmo o grande motim o conseguira enfraquecer um instante que fosse. Contudo, bem vê a que farrapo fiquei reduzido: tornei-me o homem mais timorato de todo o Wiltshire. Não se envolva demasiado neste domínio pois, de outro modo, poderá ficar submetido a um teste prolongado semelhante àquele que eu suportei: um teste que só findará num manicómio ou na sepultura...

Aguardei pacientemente que se decidisse a entrar no cerne das suas preocupações. O preâmbulo, é inútil é referi-lo, tinha-me apaixonado.

- Desde há alguns anos - prosseguiu -, a minha vida e a da minha mulher andam entristecidas.





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